Classificação, tesauro e terminologia

– FUNDAMENTOS COMUNS –

Hagar Espanha Gomes

1 INTRODUÇÃO
2 PRIMEIRA VERTENTE: O MÉTODO DE FACETA
3 SEGUNDA VERTENTE: A ORGANIZAÇÃO ALFABÉTICA
3.1 O Sistema Unitermo
3.2 O Tesauro Documentário
3.3 O Sistema de Fichas Perfuradas na Margem
4 TERCEIRA VERTENTE: REVISITANDO RANGANATHAN
5 QUARTA VERTENTE: A TEORIA GERAL DA TERMINOLOGIA
6 AGORA PODEMOS JUNTAR TUDO
7 PARA FINALIZAR: A TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO COMO UM ‘MUST’

1 INTRODUÇÃO

O título pode parecer estranho porque aparentemente estabelece relação entre referentes de distinta natureza, que pertencem a diferentes áreas de conhecimento. Tesauro é um conjunto de termos semântica e genericamente relacionados, cobrindo uma área específica do conhecimento. É um instrumento da indexação/recuperação de informação. Terminologia é um termo ambíguo que pode se referir, por exemplo, a uma área de estudo ou a um conjunto de termos de uma área de assunto. Esta última acepção já deixa perceber que há características comuns entre terminologia e tesauro, ou seja, ambos lidam com termos de uma área específica. Mas Terminologia – assim, com T maiúsculo para designar a área de estudo – também nos interessa aqui, pois o que buscamos é a identificação de seus fundamentos para compará-los com os fundamentos de elaboração de tesauros. Infelizmente, inexiste uma palavra para designar a área de estudos que se ocupa da elaboração de tesauros, mas tal área não só existe, como também tem seus fundamentos. Classificação, no âmbito da documentação, é uma palavra associada, na maioria das vezes, às tabelas de classificação bibliográficas. Neste contexto, será visto como Teoria da Classificação, abordando os fundamentos estabelecidos por Ranganathan, com a finalidade de criar tabelas de classificação facetada (linguagem documentária).

Para iniciar, queremos enfatizar que a característica comum entre tesauros e terminologias é que são ambos sistemas de classificação.

Classificar é ordenar, organizar, reunir segundo características comuns. Na Biblioteconomia esta organização é um imperativo e ela se dá através de instrumentos como tabelas de classificação – criadas com o fim específico de organizar fisicamente as coleções de documentos – e tesauros – criados para organizar os assuntos tratados nos documentos e/ou orientar os procedimentos de busca numa base de dados. As tradicionais tabelas de classificação de assunto como a CDD e a CDU têm, como unidades, conceitos ou assuntos e, por isto mesmo, nem sempre é possível construir o número de classificação de modo co-extensivo com o documento. Isto seria possível se a unidade fosse sempre o conceito o qual, por ser a menor unidade de manipulação, permitiria uma infinidade de arranjos e combinações necessárias a representar qualquer assunto de um livro, como pode ocorrer com um tesauro baseado em conceitos (proposta que defendemos)

Nas terminologias, que lidam com conceitos, estes se organizam com base em características e, segundo a TGT, os conceitos de uma área de assunto se relacionam entre si, isto é, se definem uns em relação aos outros, constituindo-se num sistema.

Embora a Biblioteconomia não tenha relação com a Terminologia, o fato de ter ela, também, uma natureza sistemática, é um fator suficientemente relevante para que se deva conhecê-la e verificar se existem fundamentos comuns entre esta última e os sistemas de classificação, incluindo-se nesta última categoria não apenas os esquemas de classificação bibliográfica mas também os tesauros documentários.

Um pouco de história pode ajudar.

O que pretendemos aqui é mostrar como o a fundamentação teórica do Tesauro pode se beneficiar dos fundamentos ou de algum aspecto particular das outras áreas, de modo complementar.

Para entendermos a relação entre Tesauro (vamos designar com letras maiúscula para designar a área de estudos), Terminologia (enquanto área de saber – e não enquanto produto final) e Classificação, temos que acompanhar o desenvolvimento histórico de várias atividades ligadas em grande parte, à Biblioteconomia/ Documentação e o surgimento da Teoria Geral da Terminologia (TGT).

Podemos dizer que para chegar ao tesauro temos 4 vertentes distintas, com distintos propósitos, mas que, de alguma forma – embora não intencionalmente – contribuíram, cada uma delas, com fundamentos que foram se complementando com o tempo. Veremos, no entanto, que tais fundamentos não cobrem todos os aspectos necessários à atividade tesaurográfica (vamos falar assim).

Uma análise da Teoria Geral da Terminologia nos permite perceber que ela tem algo a oferecer para completar o quadro teórico da atividade tesaurográfica. Embora nosso intento seja o de focalizar as áreas que contribuíram para o estabelecimento de bases teóricas dos tesauros documentários, não podemos deixar de apontar que falta à TGT – segundo nosso ponto de vista- algo em seu método que não permite a organização sistemática dos termos de uma área de assunto, como é seu intento. Neste caso, procuraremos mostrar que a Teoria da Classificação de Ranganathan é uma contribuição relevante.

As 4 vertentes a que nos referimos anteriormente seguem, às vezes, concomitantemente; outras vezes, seguem paralelas. Ao final, o quadro estará completo?

A atividade documentária é mais antiga e, por isto mesmo, tem um curso mais rico do que o da atividade terminológica. Comecemos por ela.

2 PRIMEIRA VERTENTE: O MÉTODO DE FACETA

Ranganathan, pesquisador indiano e um dos fundadores da moderna Biblioteconomia/ Documentação, era professor de Matemática na India, quando foi enviado para a Inglaterra para estudar Biblioteconomia e iniciar o movimento biblioteconômico em seu país.

À sua formação matemática e filosófica se deveu, sem dúvida, o modo de analisar as questões profissionais que se apresentaram a ele e, sobretudo, à forma como ele se propôs a resolvê-las [1]. Ranganathan atuou em todas as áreas da Biblioteconomia e da Documentação e procurou sempre sistematizá-las, identificar-lhes princípios, estabelecer postulados, etc.

No que nos interessa aqui, ficamos com a classificação. Ranganathan desenvolveu um método de classificação bibliográfica que tinha por objetivo garantir uma seqüência útil dos livros nas estantes. Sua preocupação era a de organização física dos livros numa biblioteca.

À época em que estudou Biblioteconomia, várias tabelas de classificação estavam em uso. Elas refletiam a compreensão que se tinha dos assuntos naquele momento. Para Ranganathan tais tabelas eram descritivas, ou seja, descreviam os assuntos conforme se apresentavam nos grandes tratados e, por isto mesmo, havia uma certa dificuldade em classificar assuntos novos. Ele acreditava que uma tabela deveria ser prescritiva, ou seja, a partir de alguns princípios e instruções previamente estabelecidos, de modo a poder classificar qualquer assunto, inclusive os novos.

Conta-se que o ‘estalo’ veio quando ele passava por uma loja e viu um jogo no qual diferentes peças podiam ser combinadas para formar distintos objetos.

O método de Ranganathan para conceber seu esquema de classificação – a Colon Classification – foi o de partir dos assuntos dos livros para identificar as unidades conceituais neles existentes; estas seriam as peças do quebra-cabeças, ou seja, aquelas unidades que, combinadas de diferentes maneiras, poderiam formar qualquer assunto que se desejasse. A estas unidades ele chamou de focos e isolados; não se pode afirmar que fossem, ainda, conceitos; ele mesmo chamava de idéias, de perceptos. As unidades poderiam ser conceitos, num momento, mas poderiam ser características destes conceitos, no outro.

A organização que ele deu a estas unidades já não tinha a ver com os assuntos dos livros, mas buscava refletir uma realidade empírica. Esta organização representou uma das rupturas com a metodologia vigente para elaborar tabelas de classificação.

Para Ranganathan, as idéias de uma área de assunto podem ser vistas como um todo e ser sempre reunidas sob 5 Categorias Fundamentais – ou Facetas – que ele denomina Personalidade, Matéria, Energia, Espaço e Tempo.

As Facetas têm sua manifestação nas classes mais gerais dentro de uma área do conhecimento [2]. Por exemplo, na Siderurgia, temos Facetas (classes gerais) como Produtos Siderúrgicos e Aço. Na Agricultura, Facetas como Solo, Clima, Técnicas de Cultivo, Pragas.

Para organizar os conceitos no interior de cada Faceta ele desenvolveu princípios e estabeleceu postulados, criou uma terminologia própria para formular sua teoria e seu método. Agora, torna-se possível estabelecer relações de subordinação lógica (as chamadas relações hierárquicas) com segurança. Ranganathan incluiu, ainda, em sua tabela as relações partitivas.

O método de Faceta foi visto como muito complexo, quando estudado à luz do esquema de classificação que ele desenvolveu – a Colon Classification. E ficou restrito a isto, durante algum tempo.

Enquanto isso, nos Estados Unidos…

3 SEGUNDA VERTENTE: A ORGANIZAÇÃO ALFABÉTICA

A Biblioteconomia moderna deve muito aos bibliotecários norte-americanos. O movimento de bibliotecas floresceu naquele país como talvez em nenhum outro. Com uma certa ojeriza pelos métodos europeus, os bibliotecários norte-americanos nunca viram com bons olhos os sistemas de classificação para o tratamento da informação, provavelmente por serem pragmáticos.

Para organizar os livros nas estantes, tinham o Dewey Decimal Classification[3], e isto era suficiente como classificação. Para organizar as informações dos documentos, tinham os cabeçalhos de assunto, que são um produto tipicamente americano para tratamento dos assuntos dos livros e para organização do catálogo alfabético de assunto. Embora os cabeçalhos de assunto não tenham contribuído para o desenvolvimento dos tesauros eles estão na origem dos instrumentos alfabéticos para tratamento de informação. E para contornar certas limitações outras técnicas foram desenvolvidas, como o Unitermo ou a ficha perfurada na margem, estas, sim, mais próximas, cada uma a seu modo, dos tesauros. As informações sobre o cabeçalho de assunto que se seguem servem apenas para mostrar em que contexto eles se mostraram insatisfatórios e como se desenvolveram novas modalidades chamadas genericamente de indexação pós-coordenada e os instrumentos de controle desenvolvidos para ela.

Os cabeçalhos são constituídos de uma palavra ou de um conjuntos de palavras que representam os assuntos dos documentos. A criação de novos cabeçalhos ocorre sempre que um novo livro não possa ser representado pelos cabeçalhos já registrados na lista. Esta lista caracteriza-se, pois, como uma lista descritiva, ou seja, não há princípios para a criação de cabeçalhos – eles são criados ad-hoc. A tradicional LCSH – Library of Congress Subject Headings – que é a fonte utilizada pelos bibliotecários para organizar seus catálogos, é uma lista de cabeçalhos de assunto que reflete, na verdade, os cabeçalhos existentes no catálogo da Library of Congress – os novos e os velhos. Este comportamento explica, por um lado, as incoerências da lista, detalhadas em estudos de Gomes e Torres. Como a Library of Congress tem um acervo geral, com milhões de títulos, sempre é possível recuperar alguma coisa, mesmo com tais incoerências. Mas, o que interessa discutir aqui é que cada cabeçalho representa um assunto existente em pelo menos um livro; não é uma lista que represente de modo orgânico as diferentes áreas de assunto ali incluídas. Daí afirmarmos ser ela uma lista ad-hoc [4].

A Guerra de 1939-1945 provocou um grande desenvolvimento científico e tecnológico. Os serviços de informação – acervos especializados para comunidades especializadas – daí decorrentes tiveram que procurar outros caminhos para organizar o assunto de seus documentos.

Os especialistas precisavam de uma ferramenta que lhes possibilitasse acessar um assunto por qualquer dos aspectos nele incluído. A representação do assunto de um documento por meio dos cabeçalhos de assunto era linear e, portanto, se um assunto tivesse que ser procurado por um aspecto (idéia) considerado secundário no tradicional cabeçalho de assunto, tal documento não poderia ser encontrado. A recuperação só seria possível quando fosse conhecida a palavra que iniciasse o cabeçalho.

Para resolver esta questão, e dentro da tradição de catálogo alfabético, uma interessante proposta surge no início dos anos 50: o sistema Unitermo.

3.1 O Sistema Unitermo

Para acessar qualquer aspecto de um documento, no sistema Unitermo, bastava colocar cada palavra representativa do assunto do documento em uma ficha a qual continha, além disso, os números dos documentos que tinham a ver com a idéia representada por aquela palavra. O nome ‘Unitermo’ deve ser entendido aqui por uma única palavra técnica (termo).

Havia um pressuposto que as idéias seriam representadas por uma única palavra. Logo se viu que não era bem assim. Algumas vezes o sentido só podia ser dado por meio de um grupo de palavras; muitas vezes o conjunto era formado de um substantivo e um adjetivo, outras vezes por dois substantivos. E aí várias alternativas poderiam ocorrer: manter as palavras juntas ou separadas – isto sem nenhuma prescrição -, o que introduzia incoerências. O controle de sinonímia também não foi considerado, porque se partia de outro pressuposto – o da homogeneidade -, acreditando-se que os autores e os usuários pertenciam à mesma comunidade e, portanto, o modo de procura era o mesmo modo da redação, ou seja, haveria coincidência entre a maneira como se escrevia e a maneira como se procurava informação.

O sistema foi se desenvolvendo, permitindo, algumas vezes, palavras combinadas a priori, mantendo-as separadas em outras ocasiões, sem que fossem estabelecidos princípios, o que, mais uma vez, é causa de incoerências, exatamente como nos cabeçalhos de assunto. Mas o que o sistema tinha de revolucionário, de início, não era propriamente o vocabulário de indexação, mas a forma de arquivamento das fichas, que permitia acesso a qualquer aspecto tratado num documento, além de permitir, também, acesso através da combinação de mais de um aspecto. Então os diferentes aspectos (ou facetas) deveriam ter um tratamento de sorte a abolir as incoerências. A novidade maior para o que nos interessa aqui, foi a criação de um instrumento de controle de vocabulário chamado tesauro documentário.

3.2 O Tesauro Documentário

O Tesauro surge como um instrumento alfabético de controle, tão ao gosto dos americanos. Nele, cada termo se relaciona com outros que com ele guardam alguma proximidade lógica ou semântica.

Embora os cabeçalhos de assunto também tenham relações, a diferença está no fato de as relações no tesauro serem mais refinadas, ou seja, há duas possibilidades para se indicar o antigo ‘ver também’: há as relações genérico/específicas e as relações associativas. Este instrumento foi chamado ‘thesaurus’ por ter se inspirado no dicionário analógico intitulado Thesaurus of English words and phrases, de Roget. É interessante observar que em seu Thesaurus a organização das idéias-chave obedecem a um sistema de classificação em que as categorias estão dispostas do mais abstrato para o mais concreto. Em sua Introdução Roget define seu dicionário como uma ‘classificação de idéias’ e explica que, diferentemente dos outros dicionários, o seu permite que se chegue a uma palavra mais adequada ou que melhor se ajuste à necessidades do escritor, sem que, de início, ele saiba qual é ela.

Mas, se para estabelecer relações genérico-específicas o tesauro documentário adotava algum fundamento, os princípios para estabelecer outras relações – sobretudo as relações associativas – nunca foram claros. Assim, ora as relações partitivas eram consideradas como genérico-específicas, ora como associativas [5]; também pela ausência de princípios freqüentemente fica-se sem entender porque dois termos estão ligados associativamente. Outra característica dos primeiros tesauros – que permanece na maioria dos tesauros atuais – é que o aspecto formal continua prevalecendo sobre os aspecto conceitual. Dito de outro modo, se a denominação de um conceito – por exemplo, uma propriedade, uma técnica ou operação, ou um objeto – exige várias palavras, é comum encontrar-se nos tesauros uma orientação para fatorá-los. Isto quebra o significado que aquela denominação traz (ou seja, elimina o significado), e impede, com isto, o adequado relacionamento entre os termos.

Isto evidencia, no entanto, que as bases do que seria o termo ou descritor em um tesauro não foram estabelecidas. Se havia mais de uma palavra para designar uma idéia – ou um tópico -, ora se considerava todas como parte integrante de um termo/descritor, ora não; ora uma expressão contendo mais de uma idéia era considerada como uma unidade (ou um termo), ora não. Com isto, as relações também não foram estabelecidas de forma clara.

Assim, o novo instrumento, embora considerado um avanço, não desenvolveu os fundamentos para sua construção coerente.

3.3 O Sistema de Fichas Perfuradas na Margem

À mesma época surge outra proposta: o sistema de fichas perfuradas na margem. Este sistema apresenta algumas vantagens sobre o Unitermo, pois exige controle de vocabulário. Tal controle é necessário pelo fato de haver um número limite de termos determinado pelo tamanho da ficha: o limite de perfurações exige limite no número de termos, ou seja, o total de termos depende do tamanho da ficha; por exemplo, se o campo de assunto permite dois dígitos, isto significa que o sistema só pode ter até 99 termos. Assim, para cobrir uma determinada área de assunto, alguns termos são mais amplos, ou seja, cobrem mais conceitos específicos. Na verdade, não são chamados de ‘termos’, mas ‘descritores’, ou seja, palavras ou frases com sua abrangência de significados ‘descritas’, indicando-se os conceitos específicos neles incluídos. Recomendava-se, neste sistema, que os descritores fossem organizados em forma sistemática, com uma notação numérica, com índice detalhado das idéias específicas remetendo para os ‘descritores’ – mais amplos.

Se o sistema Unitermo revolucionou a forma de arquivamento das informações e foi copiado nos primeiros sistemas computadorizados – conhecido como ‘arquivo invertido’ – o método das fichas perfuradas na margem contribuiu para a sistematização de alguns aspectos considerados como relevantes para a recuperação em um dado sistema de informação, como, por exemplo, local e ano de publicação. Pode-se afirmar que as bases para futura formatação dos dados em meio magnético se beneficiaram desta experiência. Para o que nos interessa aqui, o sistema mostrou a utilidade da apresentação sistemática no controle de vocabulário.

Tanto neste último sistema como no sistema Unitermo, houve a ruptura com o sistema de acesso linear; o vocabulário de controle e a forma de arquivamento dos dados tiveram por objetivo permitir acesso a qualquer aspecto tratado no documento, isoladamente ou em combinação com outro(s).

4 TERCEIRA VERTENTE: REVISITANDO RANGANATHAN

Na década de 50, estudiosos da classificação na Inglaterra se reuniram e criaram o Classification Research Group – CRG, com o objetivo de dar seguimento aos estudos de Ranganathan. Ali estavam Vickery, Foskett (Douglas), Mills, mais tarde, Farradane, Austin, Aitchison, para ficar com os mais conhecidos. Retomaram o método de Faceta de Ranganathan.

O CRG desenvolveu os estudos de classificação não apenas para produzir esquemas de classificação, mas para aprofundar os princípios e métodos, para melhor conhecer o objeto de seus estudos. Um dos resultados foi a identificação de muitas outras manifestações das categorias fundamentais [6].

O próprio Ranganathan havia percebido que as 5 Categorias Fundamentais eram insuficientes para mapear uma área de assunto; outras manifestações poderiam ser consideradas como segundo nível ou segundo turno das mesmas facetas. Por exemplo, uma avaliação de uma técnica é uma ação (Energia) sobre outra. Mas ele manteve as Facetas Fundamentais.

A grande contribuição para os estudos de classificação enquanto método para mapear uma realidade empírica veio com o Thesaurofacet, quando Aitchison empregou o Método de Faceta para construir uma tabela de classificação para Energia Elétrica e, ao mesmo tempo, para a construção do Tesauro alfabético que lhe servia de índice. Nele, os termos e relações, repetiam as relações que estavam evidentes na Tabela e cada termo de entrada na ordem alfabética, remetia para o código de classificação, além de mostrar igualmente as relações com outros termos. Estava claro, agora, que na organização de um Tesauro documentário a classificação estava na base, embora desconstruída em favor da ordem alfabética.[7]

O nome Thesaurus, para essa ferramenta documentária, se torna, agora, mais apropriado, pois fica evidente que ele é uma classificação de idéias.

Bem, parece que agora a velha Teoria da Classificação encontra sua utilidade num moderno instrumento de indexação/recuperação e que está tudo resolvido.

Não, em nosso ponto de vista. Se a Teoria da Classificação, mais especificamente, da Classificação Facetada se mostra atualíssima, o mesmo não se pode dizer do tratamento dado ao termo, segundo a literatura do assunto [8].

De fato, não há questionamento entre os classificacionistas a respeito do conceito ou do termo. Quanto ao primeiro, parece que ele está dado e que nada há a questionar. Fala-se das características do conceito antes para utilizá-lo como característica de divisão (ou divisão da faceta) do que para utilizá-lo no processo de denominação. Mas, no que se refere ao termo, existe a mais completa ausência de princípios a respeito de sua forma: fala-se de fatoração sintática, morfológica e semântica, para explicar como tratar um grupo de palavras. Os dois primeiros aspectos mostram, nitidamente, que o tratamento é lingüístico.

Estas soluções oferecidas pelos classificacionistas e especialistas em tesauros carece de fundamentos, sendo, mesmo, incoerentes, ao não levar em conta que existe uma relação unívoca entre o termo e o conceito. Lancaster em seu Vocabulary control [9] considera estas questões ‘filosóficas’, mas não estabelece princípios para o tratamento dos termos, repetindo as inconsistências de outros autores.

5 QUARTA VERTENTE: A TEORIA GERAL DA TERMINOLOGIA

À mesma época que Ranganathan desenvolvia seu método de Faceta, um engenheiro austríaco – E. Wüster – desenvolvia sua Teoria Geral da Terminologia – TGT, que deu origem à Escola de Terminologia de Viena [10].

Wüster estava preocupado com as relações comerciais, as trocas internacionais, os contratos que geravam direitos e deveres no comércio internacional. Para ele, a terminologia precisava estar bem estabelecida.

Infelizmente, e por ironia, Terminologia é um termo ambíguo. Entre outras coisas, ele não é evocativo. Pode-se pensar que a Terminologia seja uma ramo da Lingüística, porque se ocupa de termos e termos são unidades lexicais. Nada mais falso. Segundo a Teoria Geral da Terminologia, a atividade terminológica trata de conceitos e sua sistematização; ela tem início no conceito e termina no termo. E termo é uma palavra ou um grupo de palavras que designa um conceito, guardando com ele uma relação unívoca [11]. Ela incorpora, sobretudo, a realidade extra-lingüística. Seu objeto não é a língua, mas o conceito. Somente após este estar bem estabelecido, com seu conteúdo identificado, é que vamos nos ocupar do termo que o designa. Segundo a TGT, existe uma relação direta entre o termo e o referente, e esta relação se dá via conceito.

Segundo Wüster, um dos postulados da Teoria Geral da Terminologia é que os termos de uma área de assunto se relacionam como um sistema. E aqui nos aproximamos da Classificação.

As relações são muito bem identificadas na TGT; de alguma forma, de modo mais claro do que em Ranganathan [12],porque ela se ocupa do conceito: sua análise e conteúdo. Para Wüster os conceitos se relacionam lógica e ontologicamente. As relações lógicas se dão por abstração. As relações ontológicas são aquelas que se referem ao objeto numa realidade empírica: sua relação com outros no tempo ou no espaço.

São relações lógicas as relações de superordenação/subordinação – ou genérico-específicas; as relações ontológicas englobam as relações partitivas e as relações seqüenciais (contigüidade no espaço ou no tempo). Neste aspecto, a TGT oferece bases mais seguras para o estabelecimento das chamadas relações não-hierárquicas (associativas) nos tesauros.

A TGT usa o método de classificação como base para identificar o conteúdo dos conceitos, para estabelecer a posição dos conceitos na hierarquia, tudo isto para produzir definições coerentes. As definições são, portanto, descrições do conteúto dos conceitos. É o método de classificação que possibilita fazer predicações verdadeiras sobre os itens da realidade. (Aqui estamos incorporando uma outra Teoria, que refina ainda mais a questão do conceito, que é a Teoria analítica do conceito [13]).

A TGT fornece, ainda, solução para as questões relativas ao termo. Se o termo designa o conceito, então não cabe falar de ‘determinante’ ou ‘determinado’, ou se se trata de um termo composto, complexo, sintagmático ou o que seja. O termo designa uma unidade conceitual, não importa de quantas palavras seja constituído [14]. O importante é identificar esta unidade.

6 AGORA PODEMOS JUNTAR TUDO

Chamamos vertente cada uma dessas atividades/ações. Cada uma delas deriva um conjunto que, ao final, se harmoniza num todo coeso.

Sintetizando: Ranganathan produziu um método dedutivo, que fornece uma visão holística. Por meio do método de Faceta conseguimos perceber qualquer área de assunto como um todo. Podemos organizar dedutivamente, as hierarquias. Com isto, podemos criar esquemas de classificação e tesauros documentários. O método de Faceta contribui para a apresentação sistemática dos termos nos glossários, como recomenda Wüster.

A TGT é um método indutivo. Embora nela se fale de sistema de conceitos, na verdade, ao não incorporar o conceito de Faceta, o máximo que a TGT consegue estruturar são cadeias e renques, sem que se alcance a visão do todo.

Tanto o método de Faceta quanto a TGT fornecem bases seguras para estabelecer relações lógicas/hierárquicas. Ranganathan desenvolveu à exaustão a construção de cadeias e renques (hierarquias – relações dentro de uma mesma faceta). Wüster foi além: com as relações ontológicas ofereceu base para relações entre classes de diferente natureza (não-hierárquicas) [15].

Ranganathan não se ocupou do termo. Para ele o termo é a notação. A TGT esgota a questão do termo, e o coloca em seu devido lugar, ou seja, como designação do conceito.

7 PARA FINALIZAR: A TEORIA DA CLASSIFICAÇÃO COMO UM ‘MUST’

A Teoria da classificação não tem recebido a devida atenção nos cursos que se ocupam de organização e tratamento da informação. No seu bojo está, como se pode perceber, o conceito, que é o que se procura classificar, sistematizar. Mas ela é importante, não apenas para produzir tesauros documentários ou terminologias. Sua importância vai muito mais além.

A literatura tem mostrado que a classificação está presente não apenas nos sistemas de recuperação de informação, mas na base de sistemas e atividades que se ocupam da organização do conhecimento em suas diferentes manifestações como, por exemplo, os sistemas de inteligência artificial e hipertextos. A unidade a ser manipulada nestes sistemas e atividades é o conceito, que é uma unidade de conhecimento. As propriedades do conceito – ou as suas características – fornecem os elementos para seu interrelacionamento, ou seja, para o estabelecimento da estrutura do sistema, que o usuário percebe como uma rede, ou teia…

(Palestra preparada para as Tertúlias do Departamento de Biblioteconomia da UNIRIO, apresentada em julho de 1996)

____________________

Notas e Referências bibliográficas

[1] No momento de enviar este texto para divulgação acaba de ser apresentado ao Mestrado em Ciência da Informação a dissertação de Fernando Antonio Sepúlveda sobre a Gênese do pensamento de Ranganathan (Rio de Janeiro, IBICT, 1996), cuja leitura recomendamos. Voltar

[2] A Colon Classification é um esquema geral organizado segundo áreas de conhecimento. O método de Faceta mostrou-se igualmente válido para sistematizar áreas específicas de assunto, de âmbito mais restrito. Voltar

[3] Embora o foco aqui não seja Tabela de Classificação, é importante ressaltar que a Dewey Decimal Classification representou, igualmente, uma ruptura com os métodos vigentes ao permitir posição relativa dos livros nas estantes. Voltar

[4] O cabeçalho de assunto é também uma lista alfabética e nele os cabeçalhos também se relacionam. Apesar de rejeitar a classificação, o sistematizador dos cabeçalhos de assunto sentiu necessidade de estabelecer relação entre assuntos, relação que apenas a ordem alfabética não daria. Idéias próximas teriam que ser reunidas de alguma outra forma, como, por exemplo, através de referências cruzadas do tipo “ver também”. Estas relações foram chamadas de relações sindéticas. Voltar

[5] Willetts faz uma pesquisa sobre o tema, na década de 70, analisando dez tesauros. Cf Journal of Documentation (1975) v. 31, n. 3, p. 158-184. Voltar

[6] Cf a este respeito Vickery, B.C. Faceted classification schemes. New Brunswick, N.J., Rutgers Univ. press, 1966, p. 46-47. Voltar

[7] O Prof. Astério Campos insistia sempre neste aspecto e registrou seu ponto de vista no artigo O Processo classificatório como fundamento das linguagens de indexação, publicado na R. Bibliotecon. Brasília, (1978) v. 6, n. 1, p. 1-8. Voltar

[8] A obra mais conhecida e popular, neste aspecto, é o Manual de construção de tesauros, de J. Aitchison, cuja primeira edição está traduzida para o português pela editora Brasilart; mas é importante consultar, também, as Diretrizes da UNESCO sobre o assunto, ou o livro de Lancaster. Ver [9]. Estes autores consideram o termo ou descritor por suas propriedades lingüísticas e não conceituais. Voltar

[9] Lancaster, F.W. Vocabulary control for information retrieval. 2nd ed. Arlington, Va., Information Resources Press, 1972. Voltar

[10] As propostas de Wüster deram origem à ISO TC 37 – Comitê de Estudos sobre Princípios de Terminologia. De fato, a TGT se aproxima do modelo normativo. Cf. o artigo de Riggs, F.W. A new paradigm for social science terminology. International classification, (1979) v. 6, n. 3, p. 150-158. Voltar

[11] Esta univocidade é possível dentro de uma área de assunto, que é o campo de atuação da TGT, em especial nas áreas das Ciências Básicas e na Tecnologia. Voltar

[12] O objetivo de Ranganathan era estabelecer um sistema de notação para as idéias ou perceptos. Voltar

[13] A este respeito, cf. DAHLBERG, Ingetraut. A referente-oriented analytical concept theory for INTERCONCEPT. International Classification (1978) v.5, n. 3, p. 142-151. Voltar

[14] Esta discussão só é válida para o tratamento automático dos termos. Voltar

[15] Não se pense, no entanto, que a questão esteja esgotada. Pesquisadores da área de Inteligência artificial têm aprofundado estudos principalmente referentes à relação partitiva. Voltar

Notícias

Café acadêmico

Apresentação da pré-proposta de qualificação de mestrado de Roberta Nayara de Oliveira Pereira, intitulada "METADADOS PARA A DESCRIÇÃO DO CONTEXTO TECNOLÓGICO DE DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS DIGITAIS VISANDO A GUARDA PERMANENTE EM REPOSITÓRIOS ARQUIVÍSTICOS DIGITAIS CONFIÁVEIS RDC-ARQ".
A apresentação ocorrerá dia 31/5 no IACS, Lara Vilela, na sala C-220

Tertúlia: O que é o conceito, para Dahlberg

Local: sala C-301 - IACS - Dia 11 de maio de 2023, 14h.

Seminário de Encerramento de Estágio Pós-Doutoral do Prof. Dr. Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda

Dia 26/04/2022 às 14h – youtube.com/PPGCIUFF

Seminário de Pesquisas Discentes do EOOCI 2021

Data: 1º/12/2021
Transmissão via Google Meet.

Inscrição no link: https://forms.gle/jANr7fVTx7NdFiqaA

Evento com a participação do grupo

SEMINÁRIOS DE ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO – SEMOC 2021

PROGRAMAÇÃO: HISTÓRIA E MEMÓRIA DA ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO NO BRASIL

Dias: 25, 26, 27 e 28 de maio de 2021

Canal de transmissão: YOUTUBE PPGCI-IBICT-UFRJ

Inscrições: https://www.even3.com.br/semoc2021
REALIZAÇÃO: UNIRIO – UFF – IBICT – UFRJ

Veja aqui a Programação do SEMOC

Lives no YouTube

Entrevista com Maria Luiza de Almeida Campos – por Hildenise Ferreira Novo

Aula magna com a Profa. Hagar Espanha Gomes

youtube.com/ProjetoSalaAberta

A abordagem onomasiológica na elaboração de modelos de domínios

Com as Profas. Dras. Hagar Espanha Gomes e Maria Luiza de Almeida Campos (PPGCI-UFF)

Dia 24/setembro/2020 – 15h

YouTube – Canal EOOCI: https://youtu.be/NrX0XEq7zlI

 

Live no Google Meet
Com Profa. Dra. Maria Luiza de Almeida Campos e Nilson Theobald Barbosa
Interoperabilidade semântica em ambientes heterogêneos
Dia 17/09 às 17h
Vídeo da palestra disponível em: https://drive.google.com/open?id=1KpUsRdKWAUoQFTw_pDaapB0V4E_RPjb3&usp=gmail

 

Lives no YouTube

Análise dos agradecimentos em artigos indexados na SciELO: desafios e perspectivas

Com Prof. Dr. Gonzalo Rubén Alvarez (GCI/UFF)

Dia 27/08 às 15h

YouTube – Canal EOOCI: https://youtu.be/iGbeuVALVsc

Análise do uso do tema Cientometria em artigos indexados na BRAPCI

Com Profa. Dra. Michely Jabala Mamede Vogel (PPGCI/UFF)

Dia 13/agosto/2020 – 15h

YouTube – Canal EOOCI: https://youtu.be/9Gu7iYSYTl8

Desafios do campo biblioteconômico no Brasil
Com Profa. Dra. Ludmila dos Santos Guimarães (UNIRIO).
Dia 30/julho/2020 – 15h
YouTube – Canal EOOCI: https://youtu.be/xOEIf5YaQ_U

Sistemas de Organização do Conhecimento: teorias, metodologia e modelo.

Com Profa. Dra. Hildenise Ferreira Novo (UFBA).

Dia 23/julho/2020 – 15h
YouTube – Canal EOOCI:: https://youtu.be/xOEIf5YaQ_U

Analisando os dados de pesquisa na perspectiva arquivística

Com Dra. Ivone Pereira de Sá (FIOCRUZ)

Dia 16/julho/2020 – 15h

YouTube – Canal EOOCI: https://youtu.be/cfR_ATg3uCY

A Engenharia da Informação como ferramenta de transliteração de linguagens de representação do conhecimento: conjugando as naturezas cognitiva, documentária e comunicativa da Informação

Com Dr. Ivo Pierozzi Junior (EMBRAPA)

Dia 09/julho/2020 – 15h

YouTube – Canal EOOCI: https://www.youtube.com/watch?v=QH_lR54z_2s

As religiões de matrizes africanas em sistemas de organização do conhecimento: uma abordagem aos estudos culturais

Com Prof. Dr. Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda (PPGB/UNIRIO e PNPD/PPGCI/UFF)

Dia 02/julho/2020 – 15h

YouTube – Canal EOOCI: https://youtu.be/FUEGTtQcvYk

Abordagens metodológicas na elaboração de instrumentos de representação de CI

Com a Profa. Dra. Hagar Espanha Gomes

Dia 25/junho/2020 – 15h

YouTube – Canal EOOCI: https://youtu.be/jCBX-UybvW8

Tesauro funcional para arquivos correntes

Com Michely J. M. Vogel (PPGCI/UFF)

Dia 18/junho/2020 – 15h

YouTube – Canal EOOCI: https://youtu.be/TPbqo4MS3m8

As contribuições da Dra Ingetraut Dahlberg para a OC e a aplicação da CSKOL para a visualização da pesquisa atual nesse universo de conhecimento

Com  Tatiana de Almeida (PPGCI/UFF)

Dia 11/junho/2020 – 15h

YouTube – Canal EOOCI: https://www.youtube.com/watch?v=5fu5lhrtPkQ

Taxonomias como objetos de fronteira

Com Linair Maria Campos (PPGCI/UFF)

Dia 04/junho/2020 – 15h

YouTube – Canal EOOCI: https://www.youtube.com/watch?v=lJRimGGLlo8

O domínio multidimensional do novo coronavírus e a Organização do Conhecimento
com  Rosana Portugal Tavares de Moraes
28/maio/2020, 15h
YouTube – Canal EOOCI: https://www.youtube.com/watch?v=hRBVtK15r5Y

Indexação de fotografias usadas na propaganda sobre COVID-19: princípios para análise conceitual
com Joice Cleide Cardoso Ennes de Souza
21/maio/2020, 15h

YouTube – Canal EOOCI: https://www.youtube.com/watch?v=6XcdqzqVr4g

A atualidade do pensamento de Ranganathan: As Cinco Leis e suas Ideias Forças –
com Maria Luiza de Almeida Campos – PPGCI/UFF.  Dia 7 de maio de 2020, às 15h.
@grupo_eooci.

 

_______________________________________

I Seminário do Grupo de Pesquisa Estudos Ônticos e Ontológicos em Contextos Informacionais: representação, recuperação e métricas – EOOCI

Data: 06/11/2019

Local: Sala Interartes – Instituto de Arte e Comunicação Social (IACS/UFF)

Inscrições em:

https://www.even3.com.br/seminarioEooci

 

Acesso aberto na ciência é tema
de evento organizado pelo PPGCI/UFF

10/10/2019

XX Enancib

22 a 25/10/2019

Evento do grupo de pesquisa

Saiba mais em: https://estudosdainformacao.wordpress.com/

Skip to content