Hagar Espanha Gomes, Livre-docente e Consultora Independente
Marcílio Teixeira Marinho, Terminólogo, Bibliotecário, Professor do Instituto de Educação,
1 GENERALIDADES
2 PRINCÍPIOS DE CUTTER
2.1 Uso
2.2 Entrada direta específica
2.3 Subdivisão e inversão
2.4 Propostas de sistematização
3 USO DAS SUBDIVISÕES NA LCSH
3.1 Critérios para estabelecer as subdivisões
3.2 Tipos de subdivisão
4 SISTEMATIZAÇÃO DAS DIVISÕES
4.1 Divisões de forma
O sistema de cabeçalhos de assunto, como o conhecemos atualmente, é um sistema pré-coordenado, desenvolvido na Biblioteca do Congresso em Washington, para o seu catálogo de assunto. Seu início se deu em fins do século passado e se constituiu em inovação em matéria de catálogos de bibliotecas, pois estavam em voga, na Europa, o catálogo sistemático e o alfabético-por-classe, mais apropriados a bibliotecas usadas por um público erudito.
Nos Estados Unidos, por influência dos ideais da Revolução Francesa, as bibliotecas foram consideradas, desde logo, como instituições de relevantes funções no processo de educação do povo, isto é, do cidadão. E foi para atender ao cidadão comum que se desenvolveram técnicas e serviços biblioteconômicos tais como o catálogo-dicionário, o sistema de localização relativa de livros para permitir o livre acesso às estantes e o serviço de referência, para citar apenas os principais.
A diferença fundamental entre o catálogo-dicionário e o catálogo alfabético-por-classe ou o catálogo sistemático, reside no critério de escolha do termo de entrada. No primeiro, a entrada de assunto é direta, sem mediação de um termo mais amplo, sendo o cabeçalho tirado do uso comum. No catálogo alfabético-por-classe ou no sistemático o cabeçalho de entrada é representativo de uma classe com subdivisão de cabeçalhos relativos à ordem imediatamente inferior.
O que tem isso a ver com a subdivisão? Quando Cutter estabeleceu os princípios do catálogo-dicionário excluiu o princípio da subdivisão por ser esta a grande característica do catálogo alfabético-por-classe e do sistemático. A grande característica do catálogo-dicionário seria, então, a entrada direta, sem intermediação.
Usando a linguagem natural como base para o estabelecimento dos cabeçalhos, apenas as entradas de lugar teriam subdivisões de assunto, mantendo-se, assim, a sintaxe da língua (inglesa, no caso). E é por isso que existiam, e ainda existem em alguns casos, cabeçalhos do tipo “New York – Buildings” ou “Rio de janeiro – Statues”.
O catálogo-dicionário foi concebido, portanto, para não ter subdivisões, exceto nos casos em que a entrada fosse nome de um lugar (cidade, país, etc).
Entretanto, as subdivisões aí estão, e de vários tipos. E como a lista de cabeçalhos de assunto da LC é enumerativa, torna-se necessário consultar cada entrada (e suas subdivisões) para saber se é possível usar determinada combinação de cabeçalhos de assuntos + subdivisão.
É verdade que, a partir de 1974, a LC instituiu as “free-floating subdivisions”, não tão “livres” quanto sua denominação sugere, uma vez que ainda vêm acompanhadas de instruções de uso, algumas vezes nada simples, outras vezes com complicadas exceções.
Como se procurará mostrar a seguir, a prática da subdivisão está imbricada na própria estrutura do cabeçalho de assunto, não se podendo estudar uma sem estudar o outro.
E é a partir do conhecimento dos princípios adotados pela LC, e à luz da teoria dos conceitos, que uma nova proposta é apresentada, de sorte a tornar o sistema mais simples, ágil, inequívoco e, até certo ponto, passível de se adaptar a outros sistemas baseados também em conceitos.
Em primeiro lugar serão apresentados os princípios de Cutter para formar cabeçalhos, com as inconsistências iniciais ou as introduzidas com o correr do tempo, bem como propostas posteriores de sistematização dos cabeçalhos; a seguir se fará a descrição dos diversos tipos de subdivisões atualmente em uso na LC; finalmente se sugerirão princípios de sistematização, conforme experiência realizada na Biblioteca Nacional.
2 PRINCÍPIOS DE CUTTER PARA O ESTABELECIMENTO DE CABEÇALHOS DE ASSUNTO
Uma vantagem que o catálogo-dicionário apresenta é a possibilidade de se ter acesso ao catálogo em qualquer nível de especificidade desejável e não de forma indireta, via classe. Entretanto, o catálogo assim organizado não reúne assuntos que mantêm estreitas relações e que comumente são estudados juntos. As noções concretas, por exemplo, apresentam-se dispersas, por exemplo: Carvão; Extração de carvão; Comercialização do carvão, etc.(em língua portuguesa). Para mostrar a ligação dos concretos com as operações será necessário estabelecer uma rede de referências do tipo:
Carvão ver também Extração do carvão; Comercialização do carvão, etc.
Não havendo possibilidade de adotar a subdivisão, a construção do catálogo alfabético direto exigia, de início, a solução de dois problemas básicos, a saber: a forma exata do cabeçalho e o sistema de referências cruzadas.
Apenas o primeiro será objeto de consideração por suas implicações no aparecimento das subdivisões.
Segundo Cutter, são princípios básicos para estabelecimento de um cabeçalho de assunto:
– o uso
– a entrada direta específica.
A filosofia do cabeçalho de assunto tem sido, desde Cutter [1] a de preferir a forma usada pelo usuário. “Usage is the supreme arbiter – the usage, in the present case, not of the cataloger but of the public in speaking of subjects”. A gramática e a sintaxe do cabeçalho de assunto foram estabelecidas, portanto, a partir da gramática (da língua inglesa) e o vocabulário ditado pelo uso do público.
Cutter preconizou a entrada direta: “Um livro deve ser catalogado pelo assunto específico (diretamente) e não sob a classe que o contém (regra 161). Entretanto, quando um assunto não pudesse ser nomeado por uma palavra (um substantivo), então várias formas seriam possíveis, para garantir a especificidade:
a ) substantivo precedido de adjetivo, por exemplo: Ancient history; Capital punishment; Moral philosophy;
b ) substantivo ligado a outro por preposição, por exemplo: Penalty of death; Fertilization of flowers;
c ) substantivo precedido de outro substantivo usado como adjetivo, por exemplo: Death penalty; Flower fertilization;
d ) substantivo ligado a outro pela conjunção “and”, por exemplo: Church and State;
e ) frase ou sentença, por exemplo: Women as authors; Insect as carriers of plant diseases.
Ora, as propostas b) e c) introduzem inconsistências no sistema por permitirem que um único assunto possa ter duas estruturas de cabeçalho. Para a última proposta, existe uma regra específica, a de número 175, que estabelece que, se um assunto for expresso por várias palavras, “entrar pela primeira palavra, fazendo inversão da frase somente quando outra palavra for decididamente mais significativa ou quando tal palavra tiver sido usada independentemente, com o mesmo significado de todo o cabeçalho”.
Ao não definir os casos em que determinada palavra é mais significativa, Cutter facilitou a introdução de formas variadas de cabeçalhos sem, contudo, fornecer os princípios para a inversão.
De início foram permitidas, portanto:
– entradas diretas
– entradas invertidas
A subdivisão foi permitida apenas quando a entrada fosse um local (cidade, pais, etc). Estabelece a Regra 165 que um assunto geral, estudado com referência especial e algum estado, país ou qualquer outro lugar, deveria entrar pelo local e os cabeçalhos constituiriam a subdivisão. Esta regra, que na prática foi ignorada, não só contraria a regra de especificidade como também entra em conflito com a regra 164: “O único método satisfatório é uma entrada dupla para o local e para o assunto científico”, quando se tratar de tópico estudado com referência a dado local.
Assim, Cutter deixou aberta a porta para as inconsistência e para o uso de subdivisões de tal sorte que, em 1906, é editada a versão preliminar das subdivisões de assunto sob nomes de países ou estados e de cabeçalhos de assunto com subdivisão de países.
A LC considera subdivisão aquelas palavras ou expressões separadas do cabeçalho principal por hífen. A literatura, entretanto, não é clara a respeito dos conceitos de subdivisão e inversão. Para Metcalfe [2] a inversão, de acordo com o sentido, é uma subdivisão, embora não se apresente formalmente como tal, isto é, hifenada.
O conceito de subdivisão leva em conta, evidentemente, aspectos lingüísticos. Em muitos assuntos leitores e escritores podem estar interessados no gênero – expresso pelo substantivo – e não nas diferenças – expressas pelo adjetivo [3] Esse argumento não leva a um princípio geral e torna a decisão casuística, a saber, ora a entrada pode ser pelo adjetivo (forma direta), ora pelo substantivo (forma invertida).
Haykin, em seu guia prático sobre cabeçalhos de assunto [4], insiste, logo de início,em que, aceito o principio da especificidade, os cabeçalhos devem ser diretos e específicos a fim de manter a prática consistente [5]. Apenas não se encontra ali o que se entende por especificidade.
Aliás, a noção de “especificidade” não tem sido esclarecida pelos diversos autores que escrevem sobre cabeçalhos de assunto. Segundo Harris [6], tanto nas regras estabelecidas por Cutter quanto, depois dele, na maioria da literatura sobre o assunto, “existe a presunção de que a entrada específica expressa o aspecto ou ponto de vista do qual um assunto é tratado”. O cabeçalho-frase, que permitiria exprimir a entrada específica, seria uma alternativa para se evitar a subdivisão.
Cabeçalhos diretos e específicos não só “implicam em um mínimo de inversão e subordinação, mas também evitam que se caia nas armadilhas do catálogo alfabético-por-classes” [7]. Não há estruturação de cabeçalhos; a estrutura do cabeçalho é sua própria forma, direta ou indireta. Se um cabeçalho tiver que ser invertido, isto é, quando o primeiro elemento realmente qualificar o segundo e este for usado no catálogo como um cabeçalho independente, a inversão equivalerá à subdivisão, mas será usada em seu lugar para preservar a integridade da frase comumente usada [8]. Ao argumentar desta forma, Haykin não leva em consideração o leitor, que desconhece a diferenças entre vírgulas, hífen, etc., no catálogo.
A “antipatia” de Cutter pela subdivisão é corroborada pela sua rejeição ao catálogo alfabético-por-classes. Mesmo Cutter, porém, não conseguiu evitar a adoção da subdivisão – o que Haykin procura justificar explicando que, tendo o cabeçalho de assunto por princípio a entrada direta, o uso da subdivisão pode servir somente “como forma abreviada para locuções e para agrupamento lógico do material registrado naquele cabeçalho” [9].
Há casos em que, por força da subdivisão, os cabeçalhos se assemelham a entradas do catálogo alfabético-por-classe mas, “na realidade, são cabeçalhos-frase, reduzidos a uma forma física de cabeçalhos alfabéticos-por-classe, por conveniência de agrupamento e ordenação”. No exemplo “Construction industry – Taxation” estamos dizendo, de outra maneira, “Taxation of the construction industry”, e obviamente isso não significa que “Taxation” seja uma divisão do assunto “Construction industry” [10].
Harris justifica a criação de subdivisões para quebrar a seqüência do catálogo, “quando for grande o número de obras sobre o assunto, ou quando o assunto estiver apresentado de forma a atender a um fim específico, ou quando for limitado com respeito a tempo e lugar ou a tipos de fatos apresentados” [11].
Todas estas explicações em parte confusas e forçadas, são para justificar o uso de subdivisões sem ferir os princípios estabelecidos por Cutter. Mas as subdivisões se impõem porque se está lidando com assuntos complexos em que um elemento deve ter precedência sobre o outro, na organização do catálogo. Não sendo possível “separar” os assuntos que compõem o assunto complexo, colocando-os lado a lado numa sequência previamente estabelecida, como fazem os modernos sistemas pré-coordenados, resulta que, na maioria dos casos, as subdivisões são feitas em base ad-hoc, dependendo em larga escala da percepção do catalogador a respeito da necessidade de quebrar a sequência nas entradas do fichário para obtenção de segmentos manipuláveis [12].
2.4 Propostas de sistematização
Tentando colocar ordem no caos, Prevost propõe, em 1946, a regra do substantivo, isto é, todos os cabeçalhos devem começar por um substantivo, que indica o assunto imediato. O adjetivo, quando existente, deveria mudar de posição (na língua inglesa), separado por um hífen. “A especificidade seria obtida por meio da subdivisão e não pela entrada direta” [13]. Com essa proposta tentava a autora eliminar as inconsistências da lista de cabeçalhos de assunto: “Qualquer tentativa de identificar os princípios subjacentes está fadada ao fracasso e esse fato decorre da falta de uma base científica”. As tentativas de desenvolvimento têm partido de tais listas e é por isso que, segundo ela, não têm dado certo. “A única maneira de produzir uma teoria clara é soltar os laços que prendem o passado ao momento atual; analisar nossos objetivos e nossas práticas; e então reconstruir”[14].
Schwartz , em 1886 [15], já havia proposto a regra do substantivo mas Cutter a rejeitaria, e os seguidores de Cutter foram mais numerosos. Cutter argumentava que, em alguns casos, o substantivo qualifica o adjetivo, por exemplo: Gastric fluids, Football practice, Medical practice e outros. Além disso, segundo Cutter, tal proposta introduziria a entrada por classes, o que contrariava os princípios do cabeçalho de assunto [16].
Outro argumento contra a proposta de Prevost [17] reside no fato de que a forma do cabeçalho resultante é, por vezes, muito diferente da expressão usual e, nesse caso, o cabeçalho seria artificial, contrariando a proposta de Cutter de que “o público tem sempre razão” e “o cabeçalho deve ter uma forma que satisfaça a maneira usual como o público faz a sua busca, mesmo que isso exija sacrifício do sistema e da simplicidade” [18].
Na realidade, a linguagem documentária é artificial, embora os termos sejam extraídos do uso corrente. A proposta de Prevost tem, porém, uma virtude: a de tentar uma sistematização. Ela procura estabelecer uma ordem. Infelizmente, insistiu na “forma do cabeçalho” e não no significado.
Coates, em seu livro sobre a estrutura dos catálogos de assunto e dos cabeçalhos de assunto [19], é o primeiro autor a estudar a questão dos assuntos complexos do ponto de vista da classificação, isto é, ele vê o cabeçalho como um revestimento linguístico para os conceitos ou noções. Em seu estudo do cabeçalho composto ele investiga o relacionamento entre os termos que o compõem e procura oferecer bases objetivas para uma decisão sobre a forma direta ou invertida. Os seguidores da LC não tomaram conhecimento de seu estudo que, certamente, eliminaria inconsistências no catálogo, tornando-o prescritivo.
Rejeitando as propostas de Prevost, como anteriormente Cutter fizera com Schwartz, e ignorando as de Coates, os catalogadores, com o correr do tempo, aumentaram o número de subdivisões e de inversões, levando o público a borboletear no catálogo para encontrar as referências de seu interesse.
Recentemente [20], a Divisão de Classificação da LC instituiu uma regra para ordenar cabeçalhos com mais de um nome de país, numa forma, pode-se dizer, ditada pela “regra do substantivo”. No exemplo Stamps – France – Collectors and collecting – Japan não existem na realidade, dois nomes de países: semanticamente, o que se tem é “French stamps – Collectors and collecting – Japan”. A forma proposta pela LC, presume-se, visa a permitir o agrupamento das entradas em “Stamps”, isto é, pelo substantivo.
Uma vez que, ao lado dessa proposta, continuam existindo cabeçalhos do tipo French drama, French literature, French wit and humor, etc., ela só vai aumentar ainda mais o caos existente.
Daily, em sua pesquisa sobre a forma dos cabeçalhos da LC [21] identifica uma diversidade de formas e reúne provas suficientes para demonstrar que, de modo geral, cabe ao catalogador decidir onde deve aparecer o novo cabeçalho (entre quais outros dois cabeçalhos mais antigos, ou em que subgrupos), e então intercalar o cabeçalho “porque é lá que ele deve ficar”.
É fácil entender porque os cabeçalhos são inconsistentes quanto à forma: as decisões são ad-hoc, por se basearem em considerações pragmáticas e não numa teoria consistente [22].
3.1 Critérios para estabelecer as subdivisões
Apesar de toda orientação em contrário, a subdivisão é bastante usada na LC. Pettee, na década de 40, justifica seu uso em especial para arrumar no catálogo obras tratando do mesmo assunto em extensos catálogos de grandes bibliotecas [23].
Margaret Mann partilha desse ponto de vista quando declara que “a prática de agrupar sob um cabeçalho de assunto todos os livros sobre determinado assunto é desejável até certo ponto”. Entretanto, continua ela, “tal procedimento levará, um dia, ao ponto em que as entradas sejam tão numerosas que será difícil diferenciar os títulos. Quando isso acontecer, o assunto deverá ser subdividido” [24].
Para Haykin, se se deseja evitar os cabeçalhos alfabéticos-por-classe, então é preciso estabelecer os limites para os métodos de subdivisão. Em outras palavras, a subdivisão deveria limitar-se à organização da forma e ao caráter bibliográfico do material, à área geográfica coberta por ele e ao tempo de publicação ou ao período coberto. “Com efeito, estas subdivisões são extensões ou modificações do cabeçalho de assunto e não áreas de assuntos específicos dentro daquelas cobertas pelo cabeçalho principal [25] . Além disso, Haykin aceita a subdivisão também no caso em que “o número de obras no catálogo for muito grande” [26].
Chan declara que a decisão de se criar uma subdivisão depende, em larga escala, “da percepção que se tem da função da subdivisão” [27]. Se a subdivisão for usada para permitir um sub-arranjo no catálogo, então será feita somente se houver grande quantidade de material sobre o assunto. Mas, se a subdivisão for usada com o propósito de tornar um cabeçalho de assunto mais específico – que é a filosofia corrente na LC – subdivide-se um cabeçalho quando houver documentos que enfoquem aquele aspecto do assunto. O cabeçalho subdividido serve, assim, para manter coextensividade entre o cabeçalho e o documento [28].
Angell, embora reconhecendo que a tentativa de excluir a subdivisão por tópicos ou aspectos na LC nunca tenha sido bem sucedida [29], mantém a posição de Haykin [30], que limita as subdivisões a forma, lugar e tempo, porque a subdivisão por tópicos leva ao cabeçalho-por-classes.
A LC reconhece quatro tipos de subdivisões:
– subdivisão por tópicos
– subdivisão por local, ou geográfica
– subdivisão por período, ou tempo
– subdivisão por forma
3. 2. 1 Subdivisão por tópicos
A subdivisão por tópicos é aquela que mais sofre questionamento pelo fato de se caracterizar como uma entrada de catálogo alfabético-por-classes. Haykin admite, contudo, que ela possa ser usada para introduzir um ramo do assunto ou do tópico [31]. Nesse caso, a subdivisão se dá apenas “na forma física e não no significado”, e ela não se caracteriza como entrada de um catálogo alfabético-por-classe porque o termo secundário não pertence à ordem imediatamente inferior à do termo primário (ou classe). Na subdivisão por tópico é frequente a necessidade de o catalogador relacionar dois tópicos de diferentes áreas do conhecimento ou de diferentes categorias e, nesse caso, a questão a resolver é a ordem de precedência, ou ordem de citação. A LCSH registra, por exemplo, tanto o cabeçalho “Selling – Automobiles” como “Automobiles – Marketing”, o que não é admissível.
Há casos, entretanto, cujos assuntos estão na relação todo-parte, relação típica de um catálogo classificado, e, em tais casos, o catálogo alfabético não pode evitar o relacionamento, sob pena de o cabeçalho perder em especificidade e também em expressividade. A LC inclui tais tipos de cabeçalhos sob diferentes formas, como:
– Airplanes – Fuselages
– Airplanes – Wings
– Flaps ( Airplanes )
– Tabs ( Airplanes )
A dificuldade que a LC vem enfrentando para a solução de problemas como os acima apresentados talvez se deva à falta de uma explicitação do que se considera “especificidade” e, também, à dificuldade em aceitar o relacionamento entre noções – que está sendo visto como subdivisão – desde que estas não sejam coextensivas.
A adoção do princípio de criação de subdivisão “para quebrar a seqüencia no catálogo” [32], quando este apresenta muitas obras sobre o mesmo assunto, pode talvez justificar a coexistência de cabeçalhos como:
Campus planning , e
Universities and colleges – Planning
Agricultural prices, e
Eggs – Prices
A não-solução da chamada “subdivisão por tópicos” diminui a capacidade de expressão e de precisão do sistema de cabeçalhos de assunto e mantém as inconsistências.
3. 2. 2 Subdivisão por local, ou geográfica
Na LC usa-se subdivisão de tal tipo quando o assunto tratado se limita a uma área geográfica ou política. Aplica-se igualmente a assuntos que possuam uma conotação geográfica [33].
Como vimos anteriormente, embora Cutter tivesse evitado tal tipo de subdivisão, ele mesmo propiciou sua introdução, ao admitir exceções às regras. Hoje tal subdivisão é prática comum, embora ainda existam cabeçalhos do tipo: ’Rio de Janeiro – Estátuas’, quando o contrário seria o mais correto.
3. 2. 3 Subdivisão por período, ou tempo
Na LC usa-se subdivisão de tal tipo sob cabeçalhos que designem a história de um lugar ou de assunto [34]. Tais subdivisões podem ser expressas por termos ou números.
Haykin sugere que se use a subdivisão de forma sempre que obra estiver numa forma especial. Tal subdivisão descreve o modo como um tópico é tratado [35] .”Em geral, uma subdivisão de forma não significa que uma parte determinada do tópico esteja tratada sob um ponto de vista especial, mas que o tópico esteja tratado como um todo por meio deste dispositivo especial – um dicionário, um manual de laboratório, etc” [36].
A forma não é algo assim tão simples quanto parece à primeira vista. Harris chama a atenção para os diversos termos incluidos como subdivisões “de forma”que nem sempre podem ser consideradas como tais, como é o caso de “História”, “História e crítica”, “Crítica e interpretação”, “Arte”, “Recursos audiovisuais”, etc. Mais adiante voltaremos a este ponto.
4. 0 Vimos anteriormente que, para alguns autores, as inversões podem ser consideradas, por seu sentido, como subdivisões; vimos, também, que a LC considera subdivisão aquelas partes separadas do cabeçalho principal por um hífen; vimos, ainda, que o grande problema da LC tem sido o de estabelecer princípios básicos para a forma dos cabeçalhos-frase, que são aqueles necessários à expressão dos assuntos complexos. Isso parece decorrer do fato de o sistema ter por base a linguagem natural. Por outro lado, esta linguagem, em sua forma direta, nem sempre satisfaz à organização dos catálogos de assunto, havendo, então necessidade de manipulá-los, de sorte tal que se coloquem em evidência as palavras mais significativas. A inversão e a hifenação têm sido adotadas como solução, embora haja forte repulsa a este último processo, por ser considerado uma volta ao catálogo alfabético-por-classe, princípio rejeitado pelos adeptos do catálogo-dicionário, direto, sem intermediação.
A estrutura do catálogo alfabético-por-classe é genérico-específica. A LC não definiu o que entende por “especificidade” e isso tem dificultado o entendimento do que seria uma entrada estruturada por classe. A nosso ver, as classes seriam aquelas em que as noções relacionadas são coextensivas, e não aquelas em que vários assuntos são relacionados para formar novos assuntos (síntese).
No projeto de sistematização dos cabeçalhos de assuntos da BN adotamos, como base de trabalho, os princípios de classificação, à luz dos quais procuramos entender a maneira como a LC trata a questão da “subdivisão”.
A diferença fundamental, a nosso ver, entre o sistema de cabeçalhos de assunto usado nas bibliotecas e o sistema de descritores, usados nos sistemas de informação, reside na necessidade de os catálogos de bibliotecas indicarem não apenas os assuntos dos documentos mas também outras características. Nos sistemas de informação, que restringem seu acervo a tipos de documentos de características mais ou menos uniformes, apenas o assunto é objeto de preocupação do indexador.
De maneira esquemática podemos, então, identificar dois tipos de problemas no cabeçalho de assunto:
– a representação do assunto
– a designação / indexação de outras características.
No primeiro caso, o cabeçalho-frase preconizado por Cutter não tem funcionado, pela dificuldade de manipulação, de maneira consistente, dos elementos componentes .
No segundo caso, que é o objeto deste estudo, temos “extensões ou modificações do assunto, e não novos assuntos” , como bem expressou Haykin [37].
A solução parece estar em que os assuntos complexos devam ser analisados em seus componentes semânticos, representados por descritores, e relacionados de acordo com uma ordem de citação pré-estabelecida para formar novos assuntos (síntese [38]). Com efeito, o cabeçalho de assunto, mesmo invertido ou hifenado, mantém as mesmas características semânticas de declaração natural direta. Por exemplo:
a ) Responsabilidade dos acidentes
de tráfego
b ) Acidentes de tráfego, Responsabilidade dos
c ) Acidentes de tráfego – Responsabilidade
d ) Tráfego – Acidentes – Responsabilidade
Percebe-se que as quatro formas se equivalem, que as marcas nocionais são as mesmas, que o resultado semântico é o mesmo, isto é, a estrutura linear direta (a) se refaz na mente a cada leitura das outras formas. O que houve foi, no caso (b), inversão nos outros (c e d), segmentações, secionamento dos elementos. Tais segmentações resultam numa coordenação aparente de conceitos que a mente a cada leitura torna a sintetizar. Nenhum elemento é “subdivisão” do outro. “Responsabilidade” não é subdivisão de “Acidentes” ou de “Tráfego”; “Acidentes” não é subdivisão de “Tráfego”.
Contrariando a terminologia tradicional, chamaremos de “subdivisões” apenas as declarações de lugar e período; e de “divisões” as de forma bibliográfica. Na verdade, as declarações de tempo e lugar são “expansões”, do assunto, integram-no como seus últimos elementos. Enquanto as “subdivisões” de lugar e tempo dizem respeito ao conteúdo, as “divisões”de forma, como a própria expressão está denotando, só se referem às características dos documentos, isto é, à apresentação e o tratamento desse conteúdo.
A lista das chamadas divisões de forma, está sistematizada em 11 categorias. Em alguns (raros) casos, interpretamos latamente a natureza da divisão, para que coubesse, não inteiramente fora de propósito, em determinada categoria (p. ex.: “Descrições profissiográficas” sob Documentos Reguladores) . A categoria 11 (Documentos Textuais) está , por sua vez, reagrupada em 9 subcategorias. Esperamos que tal providência torne mais ágil a manipulação da lista, mais fácil a identificação da natureza da divisão e, sobretudo, sirva para indicar o “lugar” de outras possíveis divisões, já que não consideramos completa esta listagem.
1 ) Repertórios de documentos
Bibliografia
Bibliografia de bibliografias
Catálogos de fitas sonoras
Discografia
Filmografia Resumos
Edições
2 ) Repertórios de palavras e expressões
Concordâncias
Dicionários
Dicionários infanto-juvenis
Glossários, vocabulários, etc .
Nomenclatura Repertórios geográficos
Terminologia
3 ) Repertórios de nomes próprios
Indicadores Registros
4 ) Listas de objetos
Catálogos
Inventários
5 ) Pontos de vista , perspectivas , enfoques
Aspectos ambientais, econômicos, fisiológicos, militares, morais e éticos políticos, psicológicos, religiosos, sociológicos, sociais, etc
6 ) Música
Catálogos temáticos
Cantos e música
Montagens musicais
7 ) Tipos de edições
Edições bilingües
Edições críticas
Edições diamante
Fac-símiles
8 ) Símbolos
Abreviaturas Marcas registradas
Notação
Siglas
9 ) Informação não-textual
Atlas
Desenhos
Estatísticas
Estatísticas médicas
Fotografias aéreas
Fotografias espaciais
Humor gráfico
Ilustrações
Mapas
Obras pictoriais
Projetos e plantas
Quadrinhos
Quadros, gráficos, etc.
Retratos
Tabelas
10 ) Suporte físico não-livro
Manuscritos
Recursos áudio visuais
11 ) Documentos textuais
Anedotas
Antologias
Anuários
Biografia
Citações
Citações, máximas, etc.
Compêndios
Compilações
Contratos, especificações etc.
Correspondência
Crítica e interpretação
Currículos
Descrições e viagens
Descrições profissiográficas
Discursos, conferências, etc.
Documentos de concessões e privilégios
Ensaios
Entrevistas
Estudos de casos
Geografia
História e crítica
Humor, sátira, etc.
Instrução programada
Legislação
Lendas
Levantamentos de dados
Levantamentos geodésicos
Levantamentos topográficos
Manuais
Manuais de amadores
Manuais de laboratório
Manuais de observadores
Meditações
Narrativas pessoais
Normas
Obras de vulgarização
Patentes
Peças para a juventude
Peças teatrais
Periódicos
Poemas
Poemas para a juventude
Problemas, questões, exercícios
Programas de computador
Publicações oficiais
Resenhas
Regulamentos de segurança
Romances, etc.
Romances para a juventude
Sermões
Por ser extenso este último grupo relativo a Documentos textuais, vamos apresentá-lo também de forma sistematizada, a saber:
a ) Biografia
Anedotas Correspondência
Entrevistas
b ) Crítica
Crítica e interpretação
História e crítica
Resenhas
c ) Documentos reguladores
Contratos, especificações, etc
Currículos
Descrições profissiográficas
Formulários
Legislação
Normas
Programas de computador
Regulamentos de segurança
d ) Geografia
Descrições e viagens
Geografia
Guias
e ) Gêneros literários
Antologias
Citações
Citações, máximas, etc
Crítica e interpretação
Discursos, conferências, etc
Ensaios
História e crítica
Humor, sátira, etc
Lendas
Meditações
Peças para a juventude
Peças teatrais
Poemas
poemas para a juventude
Romances, etc.
Romances para a juventude
Sermões
f ) Levantamentos
Estudos de casos
Levantamentos de dados
Levantamentos geodésicos
Levantamentos topográficos
g ) Livros funcionais
Compêndios
Compilações
Manuais
Manuais de amadores
Manuais de laboratório
Manuais de observadores
Obras de vulgarização
Problemas, questões, exercícios
h ) Origem
Documentos de concessões e privilégios
Patentes
Publicações oficiais
i ) Frequência
Anuários
Periódicos
Nas Instruções de Uso cada Divisão de Forma resultante do estudo, está definida o mais claramente possível, por vezes até com certa abundância de informações. Preferimos, neste caso, a prolixidade à concisão, pois o que se pretende é que a definição substitua o uso. Falando concretamente, caso a definição se aplique às características do volume sob exame, o uso da divisão estará cabalmente justificado .
Como o estudo está baseado em conceituações adotamos para cada conceito uma única expressão lingüística. Aquelas múltiplas expressões que a LC em alguns casos preconiza, diferentes apenas no uso (já que no fundo significam a mesma coisa ) foram, portanto, transformadas em remissivas A expressão lingüística única que elegemos em cada caso foi sempre aquela que nos pareceu, salvo melhor juízo, a mais usual ou a mais expressiva.
Procuramos também dispor com maior clareza gráfica as instruções de uso daquelas divisões que apresentam textos extensos e compactos, como, por exemplo, “Catálogos” e “Dicionários”.
Ousamos, ainda, criar novas divisões, a nosso ver absolutamente necessárias. Os usuários da lista, cuja opinião a esse respeito solicitamos, poderão identificá-las facilmente num exame atento do texto.
As instruções de uso, que ainda são numerosas, não limitam; apenas são exemplares do uso. A idéia é que os catalogadores tenham liberdade de usar as divisões sempre que forem expressivas. Esta lista não se esgota aqui. Sempre que houver necessidade novas divisões poderão ser incorporadas.
Referências Bibliográficas
[1] Cutter, C.A. Rules for a dictionary catalog. 4th ed. rewritten. Washington, Govt. printing office, 1904, p. 69.
[2] Metcalf, John. Information
indexing and subject cataloging. New York, Scarecrow pr.,
1957, p. 83.
[4] Haykin, David J. Subject headings: a practical guide.
Washington, Govt. printing office, 1951.
[5] idem, p. 4.
[6] Harris,
Jessica Lee. Subject
analysis: computer implications of rigorous definition. Metuchen
N. J., Scarecrow pr., 1970, p. 22.
[7] Haykin, op. cit., p. 50.
[8] idem, p. 23-4.
[9] idem, p. 50
[10] idem, ibid.
[11] Harris, op. cit. p. 27.
[12] idem, ibid.
[13] Prevost,
Marie-Louise. An approach
to the theory and method in general subject heading. Library
quarterly, 16, 149, Apr. 1946.
[14] idem, p. 141.
[15] Schwartz,
Jacob. A dozen desultory
denunciations of the dictionary catalog with a theory of
cataloging. Library journal, 11: 470-77, Dec. 1886.
[16] Cutter, apud Metcalf, p. 78.
[17] Metcalf, op. cit. p. 143
[18] Cutter, op. cit., p. 6 (Preface)
[19] Coates, E.
J. Subject catalogues:
headings and structure. London, Library Association, 1960. Cap.
VI.
[20] Cataloging Service Bulletin, 16, 1982, p. 65-6.
[21] Harris, op. cit. p. 35.
[22] Daily, apud Harris, p. 35.
[24] Mann, Margaret. Introduction to cataloging and
classification of books. Chicago, ALA, 1943. p. 146.
[25] Haykin, op. cit. p. 27.
[26] idem, ibid.
[27] Chan, Lois
Mai. Library of
Congress subject headings: principles and application.
Littleton, Colo., Libraries unlimited, 1978, p. 62.
[28] idem, ibid.
[29] Angell,
Richard S. Library of
Congress subject headings – review and forecast. In: Subject
retrieval in the seventies: new directions. Ed. by H.
Wellisch and Thomas D. Wilson, 1972, p. 150.
[30] idem, p. 151.
[31] Haykin, p. 27.
[32] idem, p. 50.
[33] idem, p. 29.
[34] idem, p. 33.
[35] idem, p. 27-29.
[36] Harris, op. cit. p. 48.
[37] Harris, op. cit. p. 27.
[38] Haykin, op. cit. p. 27.
(Este estudo foi divulgado,
inicialmente, pelo IBICT,
em 1984.A ausência de instrumentos de trabalho
deste tipo levou-nos a reapresentá-lo agora, sob nova
forma, separando o texto teórico das Instruções de uso)