Prithvi N. KAULA
Resumo
Considera a classificação como um dos mais importantes ramos do conhecimento. Explica o conceito de classificação conforme o entendimento e análise de filósofos incluindo os Predicáveis de Aristóteles, a árvore de Porfíio, a classificação Baconiana e outros esquemas escolásticos para a classificação do conhecimento segundo John Locke, Auguste Comte, Herbert Spencer, etc. Assinala a categoria dos esquemas de classificação que foram aplicados a ciências específicas. Discute os diferentes esquemas de classificação sem notação e os esquemas com notação que os modernos esquemas incluem e que foram empregados nas coleções de livros das bibliotecas. Discute a falácia da classificação de livros e as razões para se adotar o termo classificação bibliotecária. Destaca a falácia da classificação bibliotecária. Examina em detalhe os fundamentos teóricos dos diferentes esquemas desde a Classificação Decimal de Dewey até a Classificação Internacional de Rider. Analisa os diferentes marcos na área da classificação e suas implicações. Fornece as características do universo de assuntos e a abordagem estática dos criadores de esquemas concebidos antes de Ranganathan. Tece comentários à teoria dinâmica da classificação. Traça a análise do conceito na classificação e as expectativas na aplicação da teoria de Ranganathan à CDU em relação ao projeto ASCOM.
(Baseado no artigo submetido à 4. Conferência sobre Pesquisa em Classificação, Augsburg, Alemanha Ocidental, de 20 de junho a 2 de julho de 1982)
1 A CLASSIFICAÇÃO COMO “PROCESSO MENTAL”
2 AS CATEGORIAS ARISTOTÉLICAS
2.1 A Árvore de Porfírio
3 A CLASSIFICAÇÃO BACONIANA
4 OUTROS ESQUEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO
4.1 Os Esquemas Escolásticos
4.2 Os Esquemas para a Ciência
4.3 Outros Esquemas
4.3.1 Esquemas sem Notação
4.3.2 Esquemas com Notação
4.3.3 Esquemas Especializados
5 CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE ASSUNTOS
5.1 Falácia da Classificação de Livros
5.2 Esquemas de Classificação do Conhecimento
5.3 Identificação das Diferenças
5.4 Por que Classificação Bibliotecária?
5.4.1 Falácia da Classificação Bibliotecária
5.5 Principais esquemas de Classificação Universal
6 BASE TEÓRICA DOS ESQUEMAS
6.1 Classificação Decimal
6.2 Classificação Expansiva
6.3 Classificação da Library of Congress
6.4 Classificação de Assunto
6.5 Classificação Decimal Universal
6.6 Classificação dos Dois Pontos
6.7 Classificação Bibliográfica
6.8 Classificação Internacional de Rider
7 O PRIMEIRO MARCO DE REFERÊNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES
8 O UNIVERSO DE ASSUNTOS E SUAS PECULIARIDADES
8.1 O Método Estático
8.2 O Advento da Teoria Dinâmica
9.1 O Trabalho nos Três Planos
9.1.1 Análise Conceitual
9.1.2 A Terminologia nas Esquemas
9.1.3 Plano Notacional
9.1.4 Análise da Obra
9.1.5 Revisão dos Termos Isolados
9.2 Identificação dos Números Homônimos e Sinônimos
9.3 História de uma Esquema Modelo
9.4 Análise do Conceito
9.5 CDU Reestruturada
9.6 Aplicação da Teoria de Ranganathan à CDU
1 A CLASSIFICAÇÃO COMO UM “PROCESSO MENTAL”
A Classificação tem sido colocada como a reunião de entidades semelhantes e a separação das não afins. Esta interpretação da classificação esteve em voga até o final do século XIX e o início do século XX. A diferenciação tem sido considerada uma característica básica na classificação. James Duff Brown estabeleceu em 1916 que a classificação era um “processo mental” constantemente executado de forma consciente e inconsciente por qualquer ser humano, ainda que não reconhecido como tal. Na realidade, este é um dos mais importantes campos do conhecimento. [1]. Toda mente classifica objetos consciente ou inconscientemente para todos os tipos de propósito. A despeito de significações e valores difundidos, o estudo da classificação não atraiu as pessoas de um modo geral, com exceção de alguns pensadores, lógicos, cientistas e especialistas em Biblioteconomia e Ciência da Informação.
Grande parte dos lógicos, filósofos
e lexicógrafos que utilizaram a classificação para compreensão e análise do
conhecimento interpretaram o significado da classificação de diferentes modos.
Eles definiram classificação como ‘Classificação do Conhecimento’, que Aristóteles
concebeu inicialmente como um ‘exercício mental’ (382-322 a.C.), mencionando
os ‘predicáveis’ em seu ‘Organon’[1] que, originariamente
em número de quatro, foram os seguintes:
(1) Gênero
(2) Espécie
(3) Diferença
(4) Propriedade, e
(5) Acidente.
Estes predicáveis podem ser chamados de categorias. No desenvolvimento deste artigo outras categorias serão adicionadas a estas.
No devido curso, 10 categorias ou predicamentos foram reconhecidos. São as seguintes:
1 Substância
2 Qualidade
3 Quantidade
4 Relação
5 Lugar
6 Tempo
7 Situação
8 Posse
9 Ação
10 Sofrimento ou passividade
Estas categorias foram os principais fatores usados pelos aristotélicos e outros para qualificar as diversas áreas do conhecimento. Devemos mencionar também que os cinco predicáveis mencionados acima forneceram alguns dos fatores de subdivisão para a moderna classificação biológica. Aristóteles, na ‘Metafísica’, dividiu o conhecimento humano em três divisões e as subdividiu como segue:
Filosofia Teórica Física
Matemática
Metafísica
Filosofia prática
Ética
Economia
Política
Filosofia produtiva
Poética
Retórica
Arte
As nove classes apresentadas acima podem se adequar à maioria dos assuntos hoje reconhecidos. Seja como for, as categorias de Aristóteles floresceram no ‘pórfiro’ *, geralmente consideradas como ponto de partida para o estudo da classificação. A árvore de Porfírio é a seguinte:
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3 A CLASSIFICAÇÃO BACONIANA
Posteriormente surgiram inúmeras classificações escolásticas do conhecimento. Entre elas devemos mencionar as divisões identificadas por Roger Bacon em seu ‘Opus major’ (1214-1294), e por N. Francis Bacon, que, em seu ‘Augmentis Scientiarum’ sugeriu um esquema de classificação do conhecimento, publicado em 1605 . A classificação Baconiana (1603-1623) foi considerada clara e satisfatória para o estudo do conhecimento humano. Apesar de algumas de suas classes e divisões se tornarem imbricadas, este sistema foi considerado um dos mais influentes nas diversas tentativas feitas para classificar o conhecimento. Seria também interessante mencionar o diagrama completo da classificação Baconiana.
4 OUTROS ESQUEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO Nota: A Classificação Baconiana foi ampliada por d’Alembert em 1767 e outros. W.T. Harris usou o sistema ‘Baconiano invertido’ em 1870, o qual influenciou a organização da Classificação Decimal de Melvil Dewey (1873-1876).
Entre os filósofos que estabeleceram esquemas para classificar o conhecimento devem ser mencionados os seguintes:
(a) Classificação de Locke (1688), de John Locke (1632-1704)
(b) Classificação de Comte (1822-1851), de Auguste Comte (1798-1857)
(c) Classificação de Coleridge (1826), de Samuel Taylor Coleridge (1772-1834)
(d) Classificação de Spencer (1864), de Herbert Spencer (1820-1903)
(e) Classificação de Bain (1870), de August Stadler
(g) Classificação de Pearson (1892), de Karl Pearson
(h) Classificação de Richardson (1901), de E. C. Richardson
4.2 Os Esquemas para a Ciência
Outras categorias de esquemas de classificação foram desenvolvidas para serem utilizadas em ramos específicos da Ciência. Vejamos a seguir:
(a) Classificação Botânica de Lineus, de Carl Linné (1735-1778)
(b) Classificação Botânica de Jussieu (1789), de Antoine Jussieu
(c) Classificação de Hooker e Bentham (1862-1883)
(d) Classificação de Engler (1900) (1892-1897)
(e) Classificações Zoológicas
de Carpenter (1845)
de Lydekkar (1897)
de Hertwig (1903)
de Cuvier (1729-1832)
de Owen (1884-1892)
Nota: As subdivisões importantes se basearam nos ‘Cinco Predicáveis’ de Aristóteles.
Outros grupos de esquemas de classificação surgiram para aplicação na organização dos livros. Estes sistemas de classificação podem ser agrupados em duas categorias:
(1) Esquemas sem notação, e
(2) Esquemas com notação.
Os esquemas sem notação são os abaixo relacionados:
(a) Classificação de Aldus (1505), de Aldo Manuzzi (1415-1515)
(b) Classificação de Gesner (1548), de Conrad Gesner (1516-1605)
(c) Classificação de Maunsell (1595), de Andrew Maunsell
(d) Classificaçãoo de Naudé (1627), de Gabriel Naudé
(e) Classificação de Garnier, de Jean Garnier
(f) Classificação de Brunet, de J. C. Brunet (1718-1867)
(g) Classificação de Horne, de Thomas Hartwell Horne
(h) Classificação de Leibnitz (1718)
(i) Classificação do Museu Britânico (1836-1838)
(j) Classificação de Schleiermacher (1852)
(k) Classificação de Merlin (1842), de R. Merlin
(l) Classificação de Palermo (1854), de Francisco Palermo
(m) Classificação da Royal Society (1857)
(n) Classificação de Trubner (1859), de Nicholas Trubner
(o) Classificação de Edwards(1859), de Edward Edwards (1812-1826)
(p) Classificação de Smith (1882, de C. P. Smith
(q) Classificação de Ogle (1895), de J. J. Ogle
(r) Classificação de Sonnenschein (1897), de W. S. Sonnenschein
(s) Classificação de Quinn-Brown (1894), de John H. Quinn e James Duff Brown
Os esquemas de classificação com notação foram usados para organizar livros. Os esquemas nesta categoria são os seguintes:
(a) Classificação de Harris (1879), de William T. Harris
(b) Classificação de Schwartz (1871-1879), de Jacob Schwartz
(c) Classificação Decimal de Dewey (1876, de Melvil Dewey (1851-1902)
(d) Classificação Expansiva de Cutter (1891-1903), de Charles Ami Cutter
(e) Classificação da Faculdade de Sion (?) (188601889), de W. H. Milman
(f) Classificação Decimal Expandida de Bruxelas (1905, do Instituto Internacional de Bibliografia
(g) Classificação Racional de Perkins (1882), de F. B. Perkins
(h) Classificação de Hartwig (1888), de Otto Hartwig
(i) Classificação de Fletcher (1889), de W. I. Fletcher
(j) Classificação de Bonazzi (1890), de G. Bonazzi
(k) Classificação de Rowell (1894), de J. C. Rowells
(l) Classificação ajustável de Brown (1898, de James Duff Brown
(m) Classificação Científica Internacional (1901), usada no “International Catalogue of Scientific Literature
(n) Classificação da Universidade de Princeton (1901), da Universidade de Princeton
(o) Classificação da Library of Congress (1902), da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos
(p) Classificação Decimal Universal (1902, da FID
(q) Classificação de Assuntos (1906, de James Duff Brown
Durante a primeira metade do século XX um bom número de bibliotecas adotou alguns dos sistemas de classificação acima mencionados e outros foram introduzidos com certas modificações. Além destes, surgiram poucos mas relevantes sistemas de classificação. São eles:
(a) Classificação dos Dois Pontos (1933), de S. R. Ranganathan
(b) Classificação Bibliográfica de Bliss (1935, de H. E. Bliss
(c) Classificação Internacional de Rider (1961), de F. Rider
Surgiram também esquemas especializados de classificação aplicáveis a diversos assuntos e adotados por bibliotecas possuidoras de coleções especializadas. Não há necessidade de listar todos os esquemas especializados, pois tomaria muito espaço. No entanto, alguns destes esquemas foram reconhecidos por especialistas nos seus respectivos campos.
5 CLASSIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE ASSUNTOS
Da lista de esquemas mencionados nas Seções 4.3.1 e 4.3.2, os seguintes pontos ficam claros:
(1) Os esquemas relacionados à classificação do conhecimento pelos lógicos e filósofos podem ser denominados de esquemas de Classificação do Conhecimento; e
(2) Os esquemas com ou sem notação projetados por alguns cientistas, por bibliotecários e bibliotecas de organizações científicas podem ser denominados de esquemas de Classificação de Assunto.
5.1 Falácia da Classificação de Livros
Houve uma certo engano no pensamento das pessoas envolvidas com a classificação nos estágios anteriores, no sentido de identificar os esquemas produzidos por filósofos como sendo classificação do conhecimento, mas que não se aplicavam à organização dos livros nas prateleiras das bibliotecas; enquanto outros esquemas, concebidos por especialistas da área de assunto e bibliotecários, foram denominados classificação de livros. Para evitar este conflito, alguns esquemas aplicáveis
5.2 Esquemas de Classificação do Conhecimento
Dois tipos de esquema de classificação do conhecimento são reconhecidos:
(1) Puro – Aplicado – Sequência – Esquemas Livres
(2) Puro – Aplicado – Sequência – Esquemas
5.3 Identificação das Diferenças
Isso nos traz à lembrança que os esquemas de classificação, ainda que não aplicáveis a livros de bibliotecas, podem ser chamados de esquemas de classificação do conhecimento. Para sermos mais específicos, eles podem ser chamados de esquemas de classificação de assunto. Chamá-los de classificação de livros é algo totalmente enganoso. Os livros como tal não são classificados por estes esquemas. É o assunto e o pensamento contido num livro ou documento que são classificados. Então, o termo que pode ser convenientemente utilizado para identificar tais esquemas é classificação de assunto.
5.4 Por que Classificação de Bibliotecas?
A diferença entre classificação do conhecimento e classificação de assunto pode ser perfeitamente demonstrada. Na classificação do conhecimento nenhuma fronteira particular da área do conhecimento é geralmente especificada e reconhecida; ao passo que, na classificação de assunto, as áreas específicas do conhecimento são identificadas e reconhecidas. Mas consciente ou inconscientemente a classificação de assunto está sendo chamada de classificação de bibliotecas. Isso se deve a dois motivos:
(1) Classificação de assunto é o nome de um esquema de classificação feito por James Duff Brown. Então, se o termo classificação de assunto pudesse ser usado, ele significaria o esquema específico e não vários esquemas relacionados à classificação de assuntos.
(2) Já que a classificação se aplicava a livros em bibliotecas, foi fácil nomear tal esquema pelo termo classificação de bibliotecas ou classificação de livros, esquecendo-se que ambos os termos foram totalmente enganadores.
5.4.1 Falácia da Classificaçãoo de Bibliotecas
“Library classification” pode significar a categorização de bibliotecas, como biblioteca pública, biblioteca escolar, biblioteca universitária, biblioteca especializada etc. Se, em vez de usar o termo “Library-classification” o termo fosse usado especificamente como classificação de bibliotecas, o significado se torna muito claro. Do mesmo modo como o termo “science classification”, o termo “library-classification” não indica que seja um esquema para classificação das bibliotecas. O termo “book classification” é ainda mais enganador. Os esquemas não classificam um livro como entidade física, mas sim o pensamento nele contido é que é identificado e classificado. Talvez o termo “book classification” tenha sido usado pelo fato do número de classificação ou o número da classe ter sido dado ao livro como um todo, resultando disso a sequência dos livros nas estantes. Mas “book-classificaciton” leva em conta o aspecto físico ou/ e as características de um livro e não o conteúdo ou o assunto específico contido em suas páginas.
Um esquema de números para livros é um esquema de classificação de livros. Mas um esquema de classificação de assunto ou para assuntos “não” é um esquema de classificação de livros.
5.5 Principais Esquemas de Classificação Universais
Dos principais esquemas de classificação usados, os seguintes são considerados universalmente aplicáveis à classificação dos assuntos:
1 Classificação Decimal Dewey, de Melvil Dewey, 1876
2 Classificação Expansiva, de C. A. Cutter 1891
3 Classificação da Biblioteca do Congresso, da Library of Congress, 1902
4 Classificação Decimal Universal, da F I D 1905
5 Classificação de Assuntos, de J. D. Brown 1906
6 Classificação dos Dois Pontos, de S. R. Ranganathan 1933
7 Classificação Bibliográfica, de H. E. Bliss 1935
8 Classificação Internacional de F. Rider 1961
Muito tem sido escrito sobre as características de cada um destes esquemas, mas algumas dificuldades encontradas na organização de um esquema de classificação não foram bem compreendidas. Henry E. Bliss foi capaz de propor uma teoria de classificação ‘antes’ de organizar seu esquema – a ‘Classificação Bibliográfica’. O primeiro esboço impresso de seu esquema foi publicado em 1910 e ele trabalhou durante 25 anos para organizar o esquema baseado nos princípios por ele enunciados em seus dois monumentais trabalhos [2].
Mesmo que outros esquemas tenham sido concebidos, seus autores ou criadores não divulgaram antes qualquer teoria sobre eles. Vejamos isto mais claramente na análise dos esquemas existentes.
Melvil Dewey planejou a ‘Classificação Decimal’ sem, em nenhum momento, ter exposto os fundamentos do esboço do esquema e a lógica por trás das divisões dos principais assuntos, suas subdivisões, seções, subseções, etc. Ele se utilizou de uma notação – números arábicos, cuja base é constituída por 9 dígitos. Baseou seu esquema nestas 9 classes, fazendo 9 outras divisões na categoria. Assim, houve pouca tentativa de fornecer um esquema para a organização de assuntos baseada no consenso científico que prevalecia naquele tempo. Como um classificador de correspondência no correio, ele conseguiu 9 escaninhos nos quais passou a encaixar os assuntos. Infelizmente Dewey não escreveu qualquer teoria, com exceção da Introdução que deu à ‘Classificação Decimal’ e isso mesmo depois de ter parado sua carreira ativa como bibliotecário ou professor de Biblioteconomia. Após ter perdido seu emprego e vivido por 25 anos até sua morte, em dezembro de 1931, ele não fez qualquer tentativa de escrever a teoria ou os fundamentos da sequência estabelecida no esquema de classificação ou das tabelas de seu esquema, além do que havia exposto em sua ‘Introdução’. Apenas nesta descreveu o esquema proposto.
C.A. Cutter se interessou inicialmente pela catalogação e elaborou seu código de catalogação em 1876 [3]. Ele foi um crítico severo da ‘Classificação Decimal’ e considerou um desafio conceber seu próprio esquema de classificação, que ficou pronto entre 1891-1893. Ele introduziu também uma nova característica chamada ‘Lista de Lugar’ mas nunca declarou qualquer teoria ou base teórica ou lógica subjacente às sequências de classes e dos isolados nas várias partes de seu esquema de classificação.
6.3 Classificação da Library of Congress
Deve-se a Herbert Putnam a decisão de criar um esquema distinto para as grandes coleções da Library of Congress. Inicialmente, ele desejava adotar a disposição da ‘Classificação Decimal’ modificando-a posteriormente como fosse possível. Mas Dewey não concordou com a ideia de modificação e então a Library of Congress, consultando Cutter, adotou a disposição da ‘Classificação Expansiva’ com pequenas modificações. A estrutura da ‘LC’ e suas classes foram baseadas no trabalho de comissões criadas para cada uma das principais áreas do conhecimento. O esquema portanto perdeu a integração da notação e dos conceitos. Parecia mais ou menos como uma lista própria para a coleção da Library of Congress. Nem a teoria nem qualquer outro aspecto da notação decimal introduzida por Dewey e Cutter foi incorporada na construção do esquema. Nem mesmo um índice cumulativo ou consolidado das classes ficou disponível e somente há pouco se pensou nisso.
James Duff Brown defendia certos princípios de classificação mas não defendeu qualquer teoria para seu esquema de classificação. Ele achava que as principais divisões do esquema de classificação são suscetíveis de muitas mudanças, mas o assunto específico não deve mudar. Foi com este objetivo que ele defendeu que todos os trabalhos relativos a um assunto simples deviam permanecer juntos e justapostos a outros livros ou tópicos a eles relacionados [4]. Este novo método de união de todos os aspectos de um assunto em um lugar possibilitou a negação do método da classificação feita por especialistas. Esta é talvez a razão pela qual a ‘Classificação de Assuntos’ tenha desaparecido como classificação prática, mesmo em bibliotecas onde foi introduzida pelo próprio Brown. Não houve qualquer interesse em escrever uma teoria da classificação que fornecesse a base de qualquer método escolhido por Brown para seu esquema. A presença do Esquema de Categorias foi, no entanto, um novo esquema do que hoje chamamos isolados comuns.
6.5 Classificação Decimal Universal
Paul Otlet e Henry La Fontaine estavam ansiosos por adotar uma esquema de classificação para a bibliografia universal que decidiram publicar depois de fundar o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB) em 1895. A expansão da ‘CDD’ era a única possibilidade colocada anteriormente. Afirmam que Melvil Dewey, tendo sabido da expansão de seu esquema sem seu conhecimento, não aprovou tal expansão de início e não autorizou o IIB a fazer isso. Ele pensava que qualquer expansão iria minimizar a utilidade básica do esquema original e justificar as críticas feitas a ela. Mas, havendo adotado mais tarde o esboço e a estrutura básica do esquema, os dois belgas tornaram-se os sucessores tanto dos bons quanto dos maus pontos da ‘CDD’. A ausência de qualquer princípio básico para um esboço do esquema e a sequência de classes fizeram com que a ‘CDU’ sofresse dessas limitações. Apesar do detalhamento do esquema e do uso de notação mista com bom número de dígitos indicadores, e inúmeros esquemas auxiliares, o esquema carece de uma teoria básica proposta por seus criadores originais.
6.6 Classificação dos Dois Pontos
Dr. Ranganathan concebeu o esboço da ‘Classificação dos Dois Pontos’ e adotou o esquema para a coleção da Biblioteca da Universidade de Madras antes de estabelecer qualquer teoria subjacente ao esquema. É surpreendente que ele tenha concebido um novo método para a organização do esquema de classificação – método facetado – sem mencionar tudo o que veio a especificar em sua teoria mais tarde, depois da publicação do esquema. Ele escreveu os ‘Prolegomena to Library Classification’ em 1937 [5] depois da ‘Classificação dos Dois Pontos’ ter sido criada e publicada em 1933. Os ‘Prolegomena’ serviram de base para dois trabalhos fundamentais de H. E. Bliss, autorizados pelo próprio Ranganathan.
A teoria básica, as técnicas de notação, as regras, os princípios, os postulados etc. foram propostos e ampliados subsequentemente [6].
Ele analisou seu esquema de classificação para ilustrar a teoria que defendia e também fez da ‘Classificação dos Dois Pontos’ uma aproximação das volumosas teorias que enunciou e defendeu através de toda sua vida. É paradoxal que um grande teórico em classificação tivesse concebido um esquema de classificação antes de enunciar sua teoria e mais tarde adaptasse o esquema à sua teoria ou fizesse do esquema uma aproximação de sua teoria.
6.7 Classificação Bibliográfica
H. E. Bliss foi o único classificacionista que enunciou uma teoria para o esquema de classificação criado mais tarde por ele. É claro que ele traçou o esboço em 1910, o que o levou a um estudo de 25 anos e ao exame de vários esquemas com suas avaliações críticas, como observou em seus dois trabalhos (ver item anterior) e também em inúmeros princípios que defendeu antes de ter concebido e publicado seu esquema de classificação em 1935. Não existe outro exemplo em toda a história da Classificação para bibliotecas onde um pesquisador tenha levado 25 anos para o estudo da classificação, apresentado sua teoria e defendido seus próprios princípios para então conceber o esquema como uma aproximação à teoria por ele anunciada. Bliss foi o primeiro classificacionista capaz de dizer que um esquema de classificação representava a ‘organização do conhecimento’ e, por isso, ter o respeito dos cientistas e especialistas no ramo.
6.8 Classificação Internacional de Rider
Rider teve a oportunidade de estudar as várias teorias e sua aplicação aos vários esquemas antes dele, mas preferiu ignorar o que havia acontecido até então e retornou aos tempos de Dewey, quando não havia qualquer teoria específica sobre a concepção de um esquema de classificação. Parece estranho que Rider tenha gasto 30 anos na concepção de seu esquema e não tenha feito nada para aprender algo das exposições teóricas feitas antes dele. Seu esquema é uma aproximação da moderna teoria da classificação.
7 O PRIMEIRO MARCO DE REFERÊNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES
Melvil Dewey introduziu a notação decimal em seu esquema de classificação. Introduziu pela primeira vez na classificação a notação de valor ordinal. A partir deste método fornecia um número integral expresso na escala de 10. Isso possibilitava uma base hierárquica na notação. Dewey, no entanto, não inseriu o ponto decimal no início de cada número decimal. Ele usou um ponto depois dos três primeiros dígitos como um dígito não significativo para fazer com que o número fosse capaz de ser lido com apenas uma olhadela.
A introdução da notação da fração decimal foi o primeiro passo significativo na classificação de assuntos. Isto também diferenciou esta classificação da classificação escolástica dos lógicos e filósofos. Estes esquemas não serviam para a subdivisão de qualquer assunto, num grau sempre crescente de detalhes, nem mesmo para ajudar no arranjo dos isolados formados, possibilitando manter o arranjo consistente. O sistema de números ordinais, que é representado por números de classes, foi concebido mediante a introdução da notação de fração decimal.
A utilidade da notação de fração decimal foi reconhecida por criadores de esquemas de classificação que vieram depois de Melvil Dewey. Todos eles, menos os criadores da ‘LC’ e ‘CIR’, adotaram a notação de fração decimal para fornecer hospitalidade na cadeia em seus esquemas. O uso da notação pura foi vencido pelo uso da notação mista por inúmeros inventores. Todos estes criadores forneceram grande hospitalidade através do uso da notação mista com seus valores ordinais. Os esquemas de classificação concebidos pelos filósofos eram em sua grande maioria baseados em suas ideias, especulações e intuição. Não havia, além disso, nenhuma necessidade de anunciar qualquer teoria por trás dos arranjos feitos para as várias áreas do universo do conhecimento.
8 O UNIVERSO DE ASSUNTOS E SUAS PECULIARIDADES
A classificação de assuntos ou o que chamamos de ‘subject classification’ significava a classificação de assuntos específicos de várias dimensões. Para fazer jus às exigências de características do universo de assuntos era necessário desenvolver uma teoria de classificação de assuntos. O surgimento do conceito de Isolado Comum e dos esquemas auxiliares foram os novos desenvolvimentos na criação de um esquema de classificação. A criação básica de um esquema de classificação ficava ao sabor do criador. O crescimento exponencial de assuntos e a taxa de proliferação do universo de assuntos criou um grande problema. O trabalho de construção de esquemas tinha limitações e sentiu-se necessidade de desenvolver uma teoria regular de classificação aplicada à criação de um esquema de classificação. Dr. S. R. Ranganathan foi o primeiro a perceber a necessidade de uma teoria dinâmica de classificação. Ele descobriu que o universo dos assuntos tinha suas próprias particularidades que ele assim estabeleceu:
(i) O Universo de Assuntos era dinâmico;
(ii) Era infinito;
(iii) Era multidimensional;
(iv) Era multidirecional;
(v) Era sempre turbulento; e
(vi) Era um continuum.
Dr. Ranganathan, além disso, imaginou que o universo de assuntos, que tinha particularidades (ver o mencionado acima) e que estava se tornando rapidamente dinâmico, carecia de uma teoria dinâmica da classificação.
É evidente que antes de Ranganathan os criadores de classificação imaginavam um esquema estático de classificação para fazer face às exigências do universo de assuntos dinâmico, multidimensional, sempre turbulento. Então, naturalmente, os esquemas de classificação deixaram de satisfazer as exigências do universo de assuntos do momento presente e do futuro. As tentativas na teoria de classificação, conforme contidas na classificação, tanto teóricas como práticas, e a organização do conhecimento em bibliotecas foram muito estáticas e descritivas e havia pouca evidência dos elementos dinâmicos nelas contidos.
8.2 O Advento da Teoria Dinâmica
Os ‘Prolegomena to Library Classification’ surgiram em 1937. Com isso, a teoria estática descrita até então chegou ao fim e uma nova teoria dinâmica surgiu, com certas limitações. A segunda edição dos ‘Prolegomena’ continuou o processo da teoria dinâmica, que ficou totalmente pronta na terceira edição, em 1967. Os princípios normativos formulados nesta teoria estão contidos no seguinte:
(1) Leis gerais do processo básico de pensar;
(2) Cinco leis da Biblioteconomia, formando a base para o desenvolvimento da Biblioteconomia, incluindo a classificação;
(3) Postulados, princípios e regras para fornecer diretrizes no trabalho de classificação;
(4) Regras a serem usadas como criério na concepção de uma esquema para classificação no plano verbal; e
(5) Regras para conceber diretrizes no trabalho de classificação no plano da notação.
9.1 O Trabalho nos Três Planos
Antes dos princípios normativos serem aplicados, o trabalho de classificação foi demarcado em três planos a saber:
1 Plano das idéias
2 Plano verbal
3 Plano notacional
O trabalho no plano das ideias é considerado superior. Ele provém do trabalho da mente, que é o lugar onde se originam as ideias. O criador de ideias precisa de auto-comunicação no interior da mente a fim de criar mais ideias. O trabalho no plano das ideias pode ser tomado como análise do conceito. Uma ideia é um conceito que ao tomar forma concreta pode levar a alguma informação. A análise conceitual é uma tarefa difícil que tem que ser esgotada na concepção do esquema de classificação. Um conceito pode ser um isolado, um quase isolado ou um assunto e é a identificação de conceitos, sua posição no universo de assuntos, seu arranjo sistemático entre outros conceitos, etc., que faz do trabalho uma tarefa árdua.
9.1.2 A Terminologia nos Esquemas
A linguagem é uma mediadora para a comunicação de ideias ou conceitos. Naturalmente, o trabalho no plano verbal tem que levar em consideração a terminologia usada na expressão do conceito particular e na interpretação daqueles conceitos ao comunicar o correto significado e a relação no contexto com outros conceitos. Estes têm que ser livres de homonímia e sinonímia, particularmente numa linguagem classificatória, que não é uma linguagem natural.
O trabalho no plano notacional tem certas restrições. Ele tem que funcionar de acordo com o que está convencionado pelo que foi trabalhado no plano das ideias. A relação entre o plano notacional e o plano das ideias é a do senhor e o criado. Mas, assim como um criado tem que seguir todas as extravagâncias e fantasias de seu senhor, também o plano notacional tem que desenvolver sua capacidade e versatilidade com o objetivo de complementar totalmente as descobertas no plano das ideias.
9.1.3.1 Redução das Restrições
A restrição no plano notacional era evidente quando Melvil Dewey escolheu somente 9 dígitos para representar a classe na sua esquema. A mesma limitação continuou com a ‘CDU’, embora esta tenha tentado desenvolver-se em sua limitação através da adoção da notação mista e inúmeras divisões analíticas dos esquemas auxiliares. Mas o trabalho no plano notacional foi sem dúvida alguma melhorado com a publicação da ‘CC’, em 1933, em uma estrutura facetada, e uma teoria dinâmica suplementada por várias técnicas e divulgada desde 1950.
A ‘Classificação dos Dois Pontos’ tenciona implementar as descobertas da teoria dinâmica da classificação para vencer as limitações notacionais e levar a cabo as exigências de trabalho no plano das ideias. O trabalho nos três planos tem que ser separado. Tal separação facilita a exploração de cada esfera de trabalho. Observou-se que, enquanto o trabalho no plano das ideias e no plano notacional necessitava de constante atenção, revisão, modificação e desenvolvimento, o trabalho no plano verbal tinha permanecido mais ou menos constante.
Uma análise da obra nos três planos traz à tona os seguintes pontos:
(1) A análise do conceito tem que ser feita em associação com especialistas em linguística e especialistas no assunto. Não pode ser feito por um especialista em classificação ou pelo próprio criador do esquema. Isso significa que mais e mais pessoas de outras disciplinas devem estar associadas com o trabalho de classificação, particularmente na análise dos conceitos – sua interpretação, sua sequência, sua inter-relação e elucidação.
(2) Postulados, princípios e regras devem ser aplicáveis rigorosamente aos três planos de trabalho e às áreas especificadas onde um trabalho posterior precise utilizar os princípios e cânones.
(3) Há necessidade de se demarcar outro plano de trabalho entre o plano verbal e o notacional. Uma vez desenvolvidos e expressos os conceitos, eles precisam ser estabelecidos numa sequência requerida pelo plano das ideias antes de adotar a notação. Este plano se engajará no arranjo, rearranjo, adoção ou mudança de sequência dos isolados ou conceitos, conforme estabelecido no plano verbal, mas antes que as técnicas notacionais sejam aplicadas. Isto pode ser interpretado de uma outra maneira. Antes do aparato notacional ser dado a um conceito ou a uma série de conceitos, é necessário algum trabalho para tornar a sequência de conceitos ou a aplicação de conceitos compatível com a técnica notacional disponível para a classificação. Alguns podem não concordar com a observação, mas é claro que o trabalho no plano notacional tem que ser o de levar em conta a ideia de preparação do conceito para o emprego da notação e a operação da notação aos conceitos.
9.1.5 Revisão dos Termos Isolados
Os esquemas de classificação foram concebidos com a terminologia em uso naquele tempo. No curso dos anos alguns termos se tornaram obsoletos e perderam sua aceitação e alguns novos termos vieram a entrar no campo para representar os antigos conceitos. Então a substituição de termos antigos e a omissão de termos obsoletos e a introdução de novos termos têm que ser feitas através de constante revisão dos termos isolados em cada uma das tabelas de um esquema de classificação. Este trabalho foi levado adiante pelo Departamento de Biblioteconomia da Universidade Hindu de Benares por um aluno de mestrado em Biblioteconomia, que preparou um quadro comparativo dos termos usados em Ciências Biológicas em três esquemas de classificação – CDD, CC e CDU – e também no tesauro em cada um dos assuntos [7]. O resultado foi que todos os esquemas tiveram menos termos correntes e tiveram também inúmeros termos obsoletos. Tal trabalho tem que ser feito em outras disciplinas se quisermos que nossos esquemas de classificação representem os conceitos corretamente e com uma terminologia atualizada e modelar.
9.2 Identificação dos Números Homônimos e Sinônimos
Existe uma grande quantidade de números homônimos e sinônimos particularmente na ‘CDD’ e na ‘CDU’. Em 1946, quando eu era aluno do Departamento de Biblioteconomia na Universidade Hindu de Benares iniciei o trabalho de identificação de números homônimos e sinônimos na ‘Classificação Decimal’. O resultado, um esforço grandioso, foi publicado em 1946 [8]. Este trabalho não foi continuado posteriormente. Alguns passos devem ser dados para se descobrir os números sinônimos e homônimos de forma que se estabeleça a unicidade dos números de classes e o esquema de classificação fique livre de números homônimos e de números sinônimos.
9.3 História de um Esquema Modelo
Neste artigo não pretendo me deter em outras ideias, sugerindo observações para seu aperfeiçoamento, mas é amplamente aceito na Índia que as pessoas se engajem na avaliação e no desenvolvimento da teoria existente e na técnica notacional desenvolvida pelas contribuições do Dr. Ranganathan. Mesmo reconhecendo que a ‘Classificação dos Dois Pontos’ é uma esquema prático muito superior a outros esquemas de classificação, ela talvez não seja adotada por grande número de bibliotecas fora da Índia, mas é adotada por um grande número de bibliotecas no sul da Índia e praticamente nas mais importantes bibliotecas do norte da Índia. A teoria por trás da ‘CC’ viverá e está sendo estudada em quase todas as escolas de Biblioteconomia e de Ciência da Informação. O estudo da teoria da classificação através do “CCC’ (Comitê Central de Classificação da FID) torna-se um guia para a classificação prática, mesmo trabalhando com outros esquemas. Aqueles que tiverem como experiência o trabalho com a ‘CDD’, a ‘CDU’ e a ‘CC’, irão concordar comigo que, ao trabalhar com esses esquemas, particularmente atribuindo números aos documentos, o método ‘CC’, baseado nos seus fundamentos teóricos, é sempre útil.
Ao escolher a primeira fase, a segunda, a terceira, etc., de um número de classe que represente um assunto científico, o método da teoria básica da ‘CC’ é proveitoso. A impossibilidade da ‘CDU’ fornecer números únicos, pelo fato de poder construir números alternativos, encontra na Análise de Faceta e nos princípios de sequência de facetas a base para produzir números de classe úteis para atender as necessidades da maioria dos usuários.
Creio que o termo ‘Classificação para Bibliotecas’ deveria ser substituído por Classificação de Conceitos pois a classificação de assunto cria homonímia. Já a Dra. I. Dahlberg trabalhou na análise conceitual endossando a teoria básica da classificação como foi realizada pelo Dr. Ranganathan. Ela é de opinião que a estrutura do sistema deveria ser baseada na categoria de descritores de objetos e campos de aspectos, o que é um esclarecimento avançado para a categoria fundamental e para os conceitos de relação de fase usados na Classificação dos Dois Pontos.
Estou convencido, também, que o futuro do sistema de classificação universal se baseia na adoção de uma teoria dinâmica da classificação, como a desenvolvida por Ranganathan. Embora a CDU seja um esquema internacional de classificação e seja adotada em muitas bibliotecas especializadas, bem como na área de informação, o esquema com suas limitações é incapaz de ir ao encontro das necessidades das dinâmicas características do universo de assuntos. Enquanto a estrutura da CDU não puder ser modificada, uma estrutura modificada na forma de BSO (Broad System of Ordering) já foi criada [9]. A CDU pode ter grande utilidade e longevidade com mais flexibilidade e hospitalidade se adotar alguns dos conceitos e princípios teóricos básicos, incluindo as técnicas notacionais na reestruturação de suas classes. Esta é uma nova linha de estudo que deve ser considerada pela FID e seus comitê – FID/CCC e FID/CR.
Enquanto estive no encontro do Centro Regional da UNESCO para o Hemisfério Ocidental assumi a tarefa de criar um esquema analítico-sintético de classificação de Medicina dentro da organização da CDU, que estava sendo adotado no Centro Nacional de Informação em Ciências Médicas em Havana, Cuba. Dois médicos e dois bibliotecários trabalharam comigo e nós criamos um novo esquema de Medicina chamado ASCOM (Analytico-Synthetic Classification of Medicine) dentro da estrutura da CDU [10]. O esquema foi apresentado posteriormente no Congresso Mundial de Medicina realizado em Bruxelas e foi colocado, ainda, em computador. Tais estudos em outras áreas ajudariam tremendamente no desenvolvimento das potencialidades existentes e na versatilidade dos esquemas da CDU.
9.6 Aplicação da Teoria de Ranganathan à CDU
Um aluno do Mestrado em Biblioteconomia do Departamento de Biblioteconomia da Universidade Hindu de Benares desenvolveu o trabalho ‘Aplicação da Teoria de Ranganathan à CDU’. Este trabalho me convenceu que resultados muito melhores podem ser obtidos pela aplicação da teoria proposta por Ranganathan e reconhecida por todo mundo, se pudesse ser incluida no esboço do quadro da CDU. Em 1962, Donker Duyvis, Secretário Geral da FID, ao homenagear Ranganathan expressou seu desejo de que poderia haver a combinação dos dois sistemas de classificação bibliográfica -CDU e CC – e que se houvesse alguém que tivesse interesse em tal trabalho, este seria o ‘Sábio Amigo do Oriente’. Deixem-me colocar aqui o que ele realmente disse: ‘Sei que a tarefa de reunir as duas classificações multidimensionais e dinâmicas é mais do que sobre-humana e devo me confessar incapaz de cumpri-la mesmo parcialmente. Mas, se descobrirmos alguém em quem possamos confiar, ele fará uma séria tentativa de unificá-las. Acho que esta pessoa &é o nosso sábio amigo vindo do Oriente.’ [11]
Donker Duyvis tinha confiança de que o ‘sábio homem’ – Dr. Ranganathan – poderia combinar os princípios da Classificação dos Dois Pontos com a utilidade da CDU e o esquema combinado que ele pudesse projetar seria uma grande contribuição para o estudo da classificação e de sua aplicação ao trabalho de informação, por muitos anos vindouros.
* O autor faz um trocadilho com o nome de Porfírio [N. do T.]
Referências
[1] BROWN, J. D. Library classification and cataloging, 1916, p. 1.
[2] BLISS, H. E. Organisation of knowledge in libraries and subject approach to books. 1. Ed. 1933, 2. Ed. 1939.
[3] CUTTER, C. A. Rules for a dictionary catalogue.
[4] BROWN, J. D. Subject classification – Introduction.
[5] RANGANATHAN, S. R. Prolegomena to library classification. Ed. 1. 1937; Ed. 2. 1957; Ed. 3. 1964.
[6] Ibid. p. 13.
[7] VARSHNEY, S. Canon of currency and schedules of classification schemes. (M. Lib. Sc. Dissertation)
[8] KAULA, P. N. Homonymous and synonymous decimal numbers (ILA Bulletin, vol. 4, 1946, p. 32-35).
[9] COATES, Eric; LLOYD, G.; SIMANDL, Dusan . Broad system of ordering manual. 1979.
[10] DORF RUDICH, Solomon; BRAVO, j. Raman; KAULA, P. N. ASCOM – Analyutico-synthetic classification of Medicine (Herald of Library Science, vol. 12, 1973, p. 299-312)
[11] DUYVIS, Donker Jubilee of the creator of the Colon Classification (In: Library Science Today, ed. by P. N. Kaula, p. 34)
(Do orignal em inglês: Rethinking on the concepts in the study of classification, publicado em Herald of Library Science, vol. 23, n. 2, Jan./Apr. 1984, p. 30-44)
(Direitos de tradução e divulgação cedidos pelos editores de Herald of Library Science)