Lecy Maria Caldas Tôrres
Mestre em Ciência da Informação/IBICT/UFRJ
O cabeçalho de assunto como instrumento de representação de assuntos e/ou formas documentárias é utilizado na elaboração de entradas de catálogos alfabéticos de assunto. Como instrumento de recuperação da informação é precário, entre outros fatores, devido à inconsistência de sua sintaxe. Ë necessário sistematizar a ordenação dos elementos dos cabeçalhos compostos, com base em princípios classificatórios e regras prescritivas, a fim de eliminar a prática casuística da catalogação ou indexação de assunto. A utilização da análise conceitual, categórica e facetada em consonância com o conceito de “termo” abre ao catalogador/indexador a perspectiva de elaboração consistente da sintaxe linguística e da sintaxe absoluta.
1 INTRODUÇÃO
1.1 Sintaxe de Cabeçalhos de Assunto
1.2 Situação Atual
2 TENTATIVAS DE SISTEMATIZAÇÃO
2.1 Princípios de Cutter
2.2 Princípios Baseados na Linguagem Natural
2.3 Princípios Lógicos
3 BASES TEÓRICAS PARA A SISTEMATIZAÇÃO
3.1 Sintaxe Absoluta
3.2 Sintaxe Linguística
4 ANÁLISE DE CABEÇALHOS
4.1 Sintaxe Absoluta
4.2 Sintaxe Linguística
5 CONCLUSÃO
5.1 Lista de Cabeçalho de Assunto do Sistema Bibliodata (LCASB)
5.2 Catalogação/Indexação com Cabeçalho de Assunto
5.3 Catálogo Alfabético de Assunto
5.4 Diretrizes para a Sistematização da Sintaxe
A catalogação de assunto e o seu tradicional instrumento, lista de cabeçalhos de assunto são originários dos EUA. A prática da elaboração de catálogos alfabéticos de assunto, desenvolvida na Library of Congress, tem sedimentado o uso do cabeçalho de assunto (1) na formação das entradas desse tipo de catálogo. De utilização generalizada, o cabeçalho de assunto, como instrumento de representação e recuperação da informação registrada em documentos tem apresentado, no entanto, uma série de inconsistências relacionadas à sua construção e ao seu uso. Neste estudo são abordadas apenas aquelas que se referem a sua sintaxe, objeto parcial de pesquisa elaborada como dissertação de mestrado [Tôrres]. Os objetivos deste artigo são, então, o de registrar algumas questões e discussões referentes à inconsistência da sintaxe de cabeçalhos de assunto e o de propor diretrizes para a sua sistematização.
1.1 Sintaxe de Cabeçalhos de Assunto
A sintaxe de cabeçalhos de assunto evidentemente só se manifesta no universo dos cabeçalhos compostos, de que são exemplos típicos os cabeçalhos-frase ou as expressões compostas. 0s cabeçalhos de assunto servem para expressar assuntos e/ou formas de documentos ou o conteúdo e/ou forma da informação registrada.
São cabeçalhos compostos os constituídos por mais de uma palavra, enquanto os simples são formados apenas por uma palavra. Os assuntos simples são os que representam apenas uma ideia enquanto os compostos são formados por duas ou mais ideias. Assim, há cabeçalhos compostos representando assuntos simples (exemplo: Testes de aptidão; Motores de avião; Poluição radioativa etc.) e assuntos compostos (exemplo: Poluição radioativa da água; Alimentação dietética para diabéticos; Fabricação de motores de automóveis).
Entende-se por sintaxe de cabeçalhos de assunto a combinação dos elementos ou palavras que formam os cabeçalhos compostos. Sabendo-se que este procedimento relacionado à composição do cabeçalho tem função efetiva em instrumentos pré-coordenados de acesso ao conteúdo e/ou formas temáticas e documentárias, como os catálogos alfabéticos de entradas lineares, torna-se necessária a utilização de mecanismos que possibilitem sua elaboração consistente.
Embora os instrumentos lineares de acesso à informação não possam prescindir de uma sintaxe sistemática, as bases de dados eletrônicas – que permitam o acesso múltiplo a “strings” ou que contém sistemas do tipo hipertexto – parecem não necessitar de tais recursos. É preciso lembrar no entanto que, se por um lado, há uma convivência inegável entre sistemas eletrônicos mecanizados e manuais de representação e acesso à informação registrada, por outro lado, o estudo para a sistematização de procedimentos de tratamento da informação pode, no mínimo, abrir caminhos e questionamentos sobre novas configurações a respeito da representação/recuperação da informação registrada.
É também possível que pressupostos e diretrizes utilizados na sua representação e registro sirvam para direcionar procedimentos para sistematização de seu acesso.
A elaboração do cabeçalho composto ao longo de toda a sua história tem sido problemática. A decisão sobre a escolha do elemento ou componente do cabeçalho para constituir o seu ponto-de-acesso tem-se apresentado tão inconsistente que, por si só, constitui justificativa suficiente para a adoção de drásticas mudanças em relação a sua sintaxe. Basta que se consulte quaisquer das listas de cabeçalhos de assunto existentes para que se perceba a balbúrdia na combinação dos compostos. Esta inconsistência da ordem dos elementos que formam o cabeçalho tem criado uma série de problemas para a organização do catalogo alfabético de entradas lineares. A coexistência de formas conflitantes de sintaxe acaba inviabilizando a construção sistemática de suas entradas. Como a palavra que inicia o cabeçalho composto, isto é, o seu ponto de acesso, é fundamental para acessar a informação no catálogo alfabético pré-coordenado, e a sua sintaxe é incoerente, isto obriga o usuário, como bem afirma Svenonius [1975] [1977] e Gomes [1985], “a borboletear no catálogo” em busca da entrada adotada pelo catalogador.
Em função dessa situação generalizada de incerteza quanto ao caminho a adotar na busca da informação, com toda a probabilidade a resposta oferecida ao usuário deverá no mínimo apresentar ruído, quando não se constituir em silêncio. O sistema de acesso e a operação de busca ficam prejudicados apresentando, afirma Foskett, “uma tendência intrínseca ao erro”.
Como não há consistência lógica na construção dos cabeçalhos compostos, as inversões, por exemplo, são tentativas frustradas de solução para o problema de elaboração da sintaxe. Cabeçalhos invertidos com vírgula ou hífen coexistem com cabeçalhos na ordem direta ou com parênteses, o que evidencia a falta de critérios consistentes para a determinação ao do ponto-de-acesso e a combinação dos componentes.
A seguir, alguns exemplos extraídos da Lista de Cabeçalhos de Assunto do Sistema Bibliodata (LCASB), deixam entrever tais questões:
a) CRIANÇAS, DESENVOLVIMENTO DAS // CRIANÇAS – CRESCIMENTO // EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS;
b) CRIANÇAS – DOENÇAS CARDÍACAS // DOENÇAS RESPIRATÓRIAS INFANTIS // DOENTES MENTAIS (CRIANÇAS);
c) ALGODÃO, CARDAÇÃO DE // ALGODÃO – PENTEAGEM // INDÚSTRIA ALGODOEIRA;
D) SOLOS, POLUIÇÃO DOS // ÁGUA – POLUIÇÃO; AT – POLUIÇÃO // POLUIÇÃO MARÍTIMA.
Até mesmo o cabeçalho na ordem direta, ou seja, na ordem da sintaxe corrente, apresenta formas conflitantes de contextualização com o uso indiscriminado de preposições, adjetivos ou parênteses, como se pode observar nos exemplos a seguir:
DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS EM CRIANÇAS // DOENÇAS RESPIRATÓRIAS INFANTIS // DOENTES MENTAIS (CRIANÇAS).
As questões referentes à elaboração da sintaxe dos cabeçalhos compostos e à escolha de seus ponto-de-acesso continuam sendo tratadas nas listas de cabeçalhos de assunto atuais praticamente da mesma maneira desde a formulação das regras de Cutter, no final do século passado. Assim, em decorrência da própria natureza do cabeçalho de assunto, de suas características e evolução histórica pode-se afirmar, com toda a probabilidade de acerto, que as listas existentes, entre as quais as das bibliotecas brasileiras tanto de acervo geral como especializado, inclusive as que integram o Sistema Bibliodata/Calco, não apresentam solução para tais questões, já que são mera reprodução de uma prática possivelmente insatisfatória para atender à própria matriz de que é originária.
A complexidade dos assuntos que representam o conteúdo e/ou forma dos documentos atuais, assim como a diversidade e convivência de suportes, métodos técnicas e recursos utilizados não só para registrar como também tratar a informação registrada, parece que não têm sido suficientes para impactar os agentes da catalogação/indexação de assunto que seguem incólumes o uso do tradicional cabeçalho de assunto.
Tendo em vista o exposto, as discussões sobre a escolha do ponto-de-acesso e dos sub-cabeçalhos são desenvolvidas com base em exemplos extraídos da Lista de Cabeçalhos de Assunto do Sistema Bibliodata (LCASB), e são tratadas segundo cabeçalhos reunidos nos seguintes grupos:
1) Cabeçalhos invertidos com vírgula (ex.: PARAGUAI, GUERRA DO; COR, PERCEPÇÃO DA; AR, QUALIDADE DO; ANIMAIS, MUTAÇÃO DOS; CRIANÇAS, DESENVOLVIMENTO DAS) e com hífen (ex.: COR – EFEITO FISIOLÓGICO; COR – ASPECTOS PSICOLÓGICOS; CORES – ANÁLISE; ÁGUA – QUALIDADE; HOSPITAIS – ADMINISTRAÇÃO; CALOR – RADIAÇÃO E ABSORÇÃO; CRIANÇAS – CRESCIMENTO; CRIANÇAS – ASSISTÊNCIA; CRIANÇAS – DOENÇAS CARDÍACAS; PÉS – ABSCESSO);
2) Cabeçalhos na ordem direta (ex.: AGRICULTURA DE REGIÕES ÁRIDAS; DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS EM CRIANÇAS; ABSCESSO AMEBIANO DO FÍGADO; COR NA DECORAÇÃO DE INTERIORES; ADMINISTRAÇÃO DE HOTÉIS; ABSORÇÃO DA LUZ; ASSISTÊNCIA A MENORES);
3) Cabeçalhos com subdivisão ou considerados como tal (ex.: AGRICULTURA – TRÓPICOS; HISTÓRIA MODERNA – SÉC. XIX; IDADE MÉDIA – HISTÓRIA; PÉS – ABSCESSO; CRIANÇAS – DOENÇAS CARDÍACAS; CORES – ANÁLISE; BRASIL – PUBLICAÇÕES OFICIAIS – BIBLIOGRAFIA);
4) Cabeçalhos com parênteses (ex.: DOENTES MENTAIS (CRIANÇAS); ACLIMATAÇÃO (ANIMAIS)).
2 TENTATIVAS DE SISTEMATIZAÇÃO
A primeira tentativa de sistematização da catalogação de assunto, cujas regras ainda estão em vigor, foi realizada por Charles Ammi Cutter e registrada em sua obra Rules for a dictionary catalog, publicada em 1876. A prática exercida na Biblioteca do Congresso dos EUA (Library of Congress – LC) e a geração de seu instrumento, a Library of Congress Subject Headings, além de fundamentar acabou por sedimentar tais regras de catalogação.
Dentre as regras de Cutter, duas referem-se de modo especifico à elaboração do cabeçalho composto e à escolha de seu ponto-de-acesso, sem restringir-se à sintaxe de lugar, tempo ou forma:
“Regra 174 – O nome de um assunto pode ser:
a) uma palavra única: Botany, Economy, Ethics; ou várias palavras agregadas como:
b) substantivo precedido de adjetivo, por exemplo: Ancient history; Capital punishment; Moral philosophy;
c) substantivo precedido de outro substantivo usado como adjetivo, por exemplo: Death penalty; Flower fertilization ;
d) substantivo ligado a outro por preposição, por exemplo: Penalty of death; Fertilization of flowers;
e) substantivo ligado a outro pela conjunção “and”, por exemplo: Church and state;
f) frase ou sentença, por exemplo: Women as authors; Insect carrier of plant diseases.
Regra 175 – Entrar um nome de assunto composto pela primeira palavra, invertendo a frase somente quando outra palavra for decididamente mais significativa ou freqüentemente utilizada sozinha com o mesmo significado de todo o nome. Exemplo: Special providences e Providence; Proper names e Names.
A regra 174 na verdade não pode ser considerada como tal, pois apenas enumera possíveis tipos de cabeçalhos compostos, em língua inglesa, na qual o adjetivo pode situar-se antes do substantivo, o que não ocorre, por exemplo, na língua portuguesa. Além disso, alguns exemplos apresentam até mesmo estrutura conflitante, como a dos cabeçalhos: FLOWER FERTILIZATION e FERTILIZATION OF FLOWERS, DEATH PENALTY e PENALTY OF DEATH.
Embora tal determinação possivelmente encontre explicação no “princípio do uso”- para se constituir em entrada do catálogo o cabeçalho de assunto deve ser compatível com a terminologia e a forma que os usuários utilizam para acessar a informação – não se justifica, porém, em decorrência da dubiedade de pontos-de-acesso que os cabeçalhos apresentam.
A regra 175 também não fornece diretrizes consistentes para a determinação da sintaxe dos cabeçalhos compostos e da escolha do seu ponto-de-acesso. Em que circunstâncias uma palavra pode ser considerada como a mais significativa dentre outras de um cabeçalho? Que critérios podem ser utilizados para identificar a que é mais significativa? A determinação da regra 175 para que se inverta o cabeçalho, ou melhor, para que se abandone a ordem direta ou a sintaxe corrente quando houver uma palavra mais significativa na frase escolhida para cabeçalho, ou então, quando houver uma palavra de uso frequente que denote o significado de toda a frase, parece que também encontra explicação no “princípio do uso” e, possivelmente, no fato de que o conhecimento existente naquela época, quando da elaboração de tal regra, não apresentava o nível de complexidade do de hoje.
É interessante registrar, com o intuito de corroborar esta última afirmativa, que Puranik [VICKERY,1980], um companheiro de Ranganathan cujo trabalho lhe forneceu subsídios para a elaboração da Colon Classification, após pesquisar a natureza dos assuntos de artigos de cinco periódicos, cobrindo um período de cerca de cinqüenta anos, chegou à conclusão de que, até 1900, mais de 50% desses assuntos eram simples e, após 1950, mais de 85% eram compostos. O que talvez também explique um dos pressupostos básicos de Cutter, que se encontra subjacente às suas regras: o de que os assuntos geralmente podem ser nomeados por cabeçalhos simples.
Tendo em vista o exposto, é compreensível a afirmativa de Metcalf [1957] de que nos tempos de Cutter, como os subcabeçalhos não eram muito usados, as questões relativas à elaboração de cabeçalhos compostos limitavam-se quase inteiramente à inversão da combinação usual das palavras escolhidas para formá-los.
Uma outra regra que embora não trate diretamente da questão da sintaxe e da escolha do ponto-de-acesso do cabeçalho composto, mas se constitui num dos fundamentos do catálogo dicionário ou do catálogo alfabético considerado como de “entrada específica”, é a seguinte:
“Regra 16I – Entrar uma obra sob o seu cabeçalho de assunto, e não sob o cabeçalho de uma classe que inclua aquele assunto. Ex.: Coloque sob Cat o livro “The cat“, de Lady Cust, e não sob Zoology ou Mamals ou Domestic animals; e coloque “Le fer“, de Garnier, sob Iron, e não sob Metals ou Metallurgy.
Para Cutter, a “entrada específica” é a principal distinção entre o catálogo alfabético específico ou o catálogo dicionário e o catálogo alfabético classificado. Na realidade, Cutter estabeleceu as regras de catalogação de assunto a partir de três princípios básicos:
l) o “princípio do “uso”, que institui o usuário como o “supremo árbitro”, e já foi anteriormente abordada;
2) o “princípio da entrada específica”, que trata da entrada típica do catálogo dicionário;
3) o “princípio da estrutura sindética” que estabelece mecanismos para o relacionamento de cabeçalhos. Este não será abordado pois não interessa ao presente estudo [OLDING].
O “princípio da entrada especifica” determina que os cabeçalhos de assunto e as consequentes entradas do catálogo alfabético de assunto sejam diretas e específicas, sem intermediação de termos mais amplos, como as do catálogo alfabético classificado, que o autor considera de difícil acesso para o cidadão comum.
É curioso observar que, ao rejeitar o catálogo alfabético classificado, Cutter tentou abolir a entrada por classe. Entretanto, todo cabeçalho de assunto é nome de classe ou representa classes de referentes (coisas, materiais, processos, propriedades, agentes, lugares, etc.), com exceção dos cabeçalhos individuais (ex.: nomes próprios personativos, locativos, etc.)
Assim, quando Cutter determina, como na regra 175, que o cabeçalho deve ser invertido para que o seu ponto-de-acesso se constitua numa palavra de uso frequente e sirva para denotar o significado de todo o cabeçalho, ele está contemplando o “princípio do uso”, e utilizando, também, embora não de modo explícito, o conceito de classe. Com isto, torna contraditória sua afirmativa( p.17) de que a entrada específica é a principal distinção entre o catálogo dicionário e o catálogo alfabético classificado: ao considerar a entrada de classe (class-entry), no registro de um livro no catálogo de assunto, contrapõe-se à entrada específica (specific entry).
Cutter também procurava evitar a inversão tanto quanto possível, a ponto de instruir para que as entradas de trabalhos sobre aspectos ou subtópicos de um assunto fossem agrupadas com as de trabalhos sobre o assunto genérico. Neste sentido, Angell argumenta que ele rejeitava a inversão porque a olhava como uma entrada de classe e que, no entanto, uma frase invertida (“Pheasant, Ring-necked”) é tão expressiva quanto a mesma na sua ordem direta (“Ring-necked pheasant”). Portanto, a entrada invertida está longe de aproximar-se da entrada do catálogo alfabético classificado, que Cutter tentou extirpar das bibliotecas dos EUA.
Quando os elementos formadores do cabeçalho composto designam, por exemplo, ideias de lugar e de assunto científico a regra 164 determina:
“O único método satisfatório é o da entrada dupla sob o local e o assunto científico. Uma obra por exemplo, sobre geologia da Califórnia deve ser colocada sob Califórnia e Geology…Mas como esta profusão de entradas aumentaria o volume do catálogo, é preciso escolher entre o lugar e o assunto científico”( p.68)
Com isto, fica-se sem critério para a escolha do ponto-de-acesso que se torna então, objeto de decisão pessoal de cada catalogador que, por sua vez, seguindo a tradição, acaba escorando-se no “princípio do uso”. Entretanto, como este é de natureza genérica imprecisa acaba funcionando como um grande guarda-chuva capaz de abrigar todos os tipos de inconsistências.
Já a regra 165 determina:
“Uma obra que trata de um assunto geral com referência especial a um lugar deve entrar sob o lugar, com uma referência do assunto” (p. 68-69)
Por exemplo entre “New England ornithology” e “Ornithology of New England” que são nomes diferentes para o mesmo assunto específico, a primeira frase deve ser escolhida para cabeçalho pois, segundo Cutter, no catálogo dicionário, entre uma classe e um indivíduo a escolha deve recair sobre este, já que o seu objetivo é o de evidenciar todos os aspectos de cada objeto. Por exemplo: “New England botany”; “New England history”; “New England ornithology”, etc. Ora, “botany”, “history”, “ornithology”, não são partes de New England, mas seus diversos aspectos, e, portanto, não constituem, segundo o autor, entradas de classe – e não teriam a função de agrupar, como no catálogo classificado, o mesmo aspecto de muitos objetos, como por exemplo: Ornithology; Ornithology of America; Ornithology of Scotland, etc., consideradas, por Cutter, entradas de classe.
Embora o conteúdo desta regra apresente um desenvolvimento coerente quanto à argumentação, em que faz uso dos conceitos de referente individual e geral, a questão da identificação do assunto nomeado por tais cabeçalhos parece equivocada. A ideia básica presente no assunto refere-se aos pássaros e não ao lugar ou ambiente em que eles vivem, que pode ser considerado como extensão daquele assunto.
As regras de Cutter, embora representem um marco importante na história da catalogação de assuntos de documentos, não fornecem diretrizes consistentes para a elaboração da sintaxe dos compostos e a determinação do seu ponto-de-acesso. Bastante imbricadas na linguagem natural, especialmente na sintaxe da língua inglesa, caracterizam-se como implícitas ao seu próprio uso, além de fundamentadas numa prática orientada por decisões casuísticas e baseadas no tradicional “bom senso” do profissional catalogador ou indexador.
2.2 Princípios Baseados na Linguagem Natural
Inúmeros autores que se debruçaram sobre tais questões da catalogação de assunto, como Chan [1978[[1978a], Dunkin, Frarey [1953][1960], Gull, Haykin, Perreault, Prevost, Metcalfe [1957] [1959], Taube, entre outros, podem ser considerados como seguidores de Cutter, no sentido de que em suas análises, estudos e escritos acabam sempre validando ou justificando os princípios, regras e interpretações estabelecidos pelo autor ou, então, adotando uma perspectiva de entendimento do cabeçalho de assunto ainda restrita à sua forma ou à sua dimensão linguística, ao seu nível de significante.
De um modo geral, para os autores que seguem os princípios de Cutter, há basicamente dois tipos de cabeçalhos que apresentam problemas na escolha do ponto-de-acesso: os cabeçalhos-frase, na ordem direta ou invertida, e aqueles com subdivisões. A preferência desses autores sempre recai na frase em ordem direta.
Entretanto, como os cabeçalhos na sintaxe da língua corrente nem sempre apresentam pontos-de-acesso expressivos em relação ao conteúdo e/ou forma documentária, a inversão acaba sendo aceita como uma possível solução. No entanto, como a inversão pressupõe a escolha do ponto-de-acesso do cabeçalho ou, como determina a regra 175, de Cutter, da palavra mais significativa, algumas soluções são sugeridas pala resolver a questão.
A regra do substantivo proposta por Schwartz, em 1886, descartada por Cutter e retomada por Prevost, em 1946, constitui-se numa das tentativas para fundamentar a escolha do ponto-de-acesso. Mas, afirma Gomes, pecou por basear-se na gramática e sintaxe de uma linguagem natural, pois o cabeçalho de assunto apesar de formado por palavras extraídas da linguagem corrente, é por natureza integrante de um vocabulário artificial.
No que se refere à escolha do ponto-de-acesso, a Divisão de Classificação da LC instituiu, na década de 1980, uma regra para ordenar cabeçalhos com mais de um nome de país, em que resgata a entrada pelo substantivo, como no exemplo: “Stamps – France – Collectors and collecting – Japan”. Entretanto, a Library of Congress Subject Headings apresenta, também inúmeros cabeçalhos iniciados por adjetivo, como por exemplo: “French drama”; “French literature”; “French wit and humor”; etc.
Assim, há uma diversidade de formas conflitantes de cabeçalhos de assunto na LC – o que é comprovado, por exemplo, em pesquisa realizada por Daily [Harris] – e lhe faltam diretrizes consistentes ao invés de considerações de ordem pragmática para orientar a sua prática. Cabeçalhos na ordem direta ou invertidos com vírgula ou hífen; cabeçalhos com subdivisão tópica e de lugar, tempo ou forma coexistem com cabeçalhos iniciados pelo lugar e subdivididos por tópicos, enfim, uma balbúrdia generalizada.
Há autores como Chan e Haykin que limitam as subdivisões apenas à forma, lugar e tempo, admitindo a subdivisão por tópicos somente quando o número de entradas de obras no catálogo for muito numeroso. O que demonstra que questões de ordem prática são confundidas com premissas para a sistematização da sintaxe de cabeçalhos compostos. Outros autores apresentam argumentos diferentes por restringir as subdivisões à forma, lugar e tempo como, por exemplo, Angell, ao considerar que a subdivisão por tópico conduz ao cabeçalho-por-classe.
Não existe entre os autores um consenso sobre a compreensão do que seja um cabeçalho invertido ou com subdivisão. Metcalfe, por exemplo, diz que a inversão, de acordo com o sentido, pode ser considerada uma subdivisão, mesmo que o cabeçalho não se apresente hifenado. Enfim, a LC, utilizando de forma indiscriminada os quatro tipos de subdivisão (de tópico, lugar, tempo e forma), tem inspirado e alimentado a confusão expressa na literatura sobre os conceitos de subdivisão e inversão, tanto ao considerar os elementos registrados após o hífen corno subdivisões do cabeçalho, como ao admitir indistintamente cabeçalhos iniciados ora com substantivos e ora com adjetivos, e cabeçalhos invertidos com vírgula, hífen ou parênteses. De tal maneira, que a saída é, por exemplo, a edição de listagens de subdivisões de tópicos para nomes de países, estados e locais e de cabeçalhos de assunto com subdivisões de países, estados e locais.
A edição das Free Floating Subdivisions,que consiste numa enumeração de subdivisões para suplementar a Library of Congress Subject Headings, denota a falta de diretrizes para determinar a sintaxe dos compostos. Quando não se dispõe de princípios coerentes para o estabelecimento da sintaxe o recurso que resta é o da arbitrariedade ou o do casuismo que se manifesta, por exemplo, nessas listas de autoridade que vêm sendo reproduzidas por todas as instituições que usam cabeçalhos de assunto. A idéia de que é possível a montagem de catálogos utilizando-se como pressupostos duas alternativas incompatíveis – ter um sistema e ao mesmo tempo modificá-lo para atender a todos os usuários igualmente bem – é um equívoco,como pode ser verificado em teses e estudos feitos por diversos autores.
Já na década de 1940, Prevost alertava para o fato de que fazer mudanças no catálogo fundamentadas em estudos de necessidades e hábitos de usuários é impraticável, a não ser em biblioteca com um grupo de usuários pequeno e homogêneo. Mas, treinar usuários no uso inteligente do catálogo, ensinando-lhes as regras que fundamentam a sua elaboração, é não só praticável como pode ser excelente se a sua construção basear-se em regras explicitas e lógicas. A mesma autora afirmava, já naquela época, que não existia urna lista de cabeçalhos construída logicamente. Todas apresentavam inconsistências e ideias conflitantes, e que as concessões mais tácitas eram feitas ao hábito de uso dessas listas e às dificuldades de mudanças. Consequentemente, as subdivisões e inversões tornaram-se cada vez mais numerosas em todos os catálogos, o que acaba confundindo o público na busca das referências de seu interesse. A prática da subdivisão, de uso generalizado, apresenta-se imbricada na própria estrutura do cabeçalho de assunto. Não é possível estudar a sintaxe de cabeçalhos compostos sem cuidar da questão das subdivisões. O estudo de um aspecto implica no estudo do outro, tema já desenvolvido por Gomes em artigo bastante elucidativo, já citado.
Estas tentativas para resolver a questão da combinação ou ordenação dos elementos do cabeçalho composto são baseadas na sintaxe da linguagem corrente, não apresentando soluções consistentes. O entendimento a respeito do que é inversão, subdivisão, palavra mais significativa e cabeçalho específico é contraditório e bastante confuso. Os princípios do uso e da entrada específica por si só são insuficientes e até mesmo inadequados para resolver a questão da sintaxe do cabeçalho composto e da escolha de seu ponto-de-acesso. Por outro lado, considerando-se o cabeçalho de assunto enquanto entrada do catálogo alfabético de assunto, algumas questões bastante rotineiras devem ser observadas e analisadas. Como historicamente o cabeçalho de assunto evolveu de contextos distintos, ou seja, de palavras de títulos de documentos ou de índices de sistemas de classificação e de catálogos sistemáticos, que foram sendo utilizadas como entradas de catálogos alfabéticos, isto provavelmente pode ter provocado confusão a respeito dos mecanismos que viabilizam as funções do catálogo alfabético de assuntos cujas entradas são, inclusive, do tipo cabeçalho de assunto.
Segundo Coates, os catálogos alfabéticos de assunto devem ter a dupla função de permitir a identificação de documentos sobre um dado assunto e de possibilitar o acesso aos documentos que tratam de assuntos relacionados. Essas são as duas funções precípuas do catálogo alfabético de assunto. A ordem alfabética que é um mecanismo utilizado na ordenação das entradas desse tipo de catálogo permite apenas agrupar palavras segundo as letras que as constituem. Portanto, não possibilita o seu agrupamento pelas ideias que designam.
Há, no entanto, uma confusão generalizada sobre as possibilidades de sistematização que tal recurso oferece. Isso talvez tenha origem no fato de que índices alfabéticos impressos de sistemas de classificação, como por exemplo os relativos, permitem, com a indentação de margens, o registro dos diversos aspectos relacionados a uma dada entrada. Entretanto, em catálogos alfabéticos de assunto, como Cutter já havia percebido, as relações entre os assuntos são viabilizados com a utilização das remissivas ou referências. Como os nomes dos assuntos são ordenados pelas letras de que são formados, as ideias ou assuntos só podem ser agrupados ou relacionados utilizando-se o recurso das remissivas “ver” – no caso de quase-sinônimos ou conceitos equivalentes e sinônimos, que representam a mesma ideia/conceito – ou “ver também” – no caso de conceitos subordinados, superordenados, coordenados, partitivos ou associados por causa ou efeito, por sucessão ou por categorias.
Logo, não adianta orientar a escolha do ponto-de-acesso no sentido de que recaia em palavras capazes de agrupar os relacionados dispersos (ex.: CAFÉ – COMÉRCIO; CAFÉ – TORREFAÇÃO; CAFÉ – CULTIVO; CAFÉ – COLHEITA etc.). A ordem alfabética não permite o relacionamento de idéias. O agrupamento de assuntos relacionados e dispersos num catálogo alfabético só é viável através das referências ou remissivas ou, então, no caso de ser impresso, com a utilização, por exemplo, da endentação. Vale a pena reproduzir aqui a afirmativa de Metcalfe [l959]: de que a tendência norte-americana de sistematização do cabeçalho de assunto é dirigida para a sua gramática em detrimento de uma abordagem lógica, o que faz que a consistência até aqui alcançada seja a da inconsistência.
Alguns autores perceberam como incompatíveis os “princípios do uso” e da “entrada específica” e levaram em conta fundamentos de ordem lógica, da Teoria da Classificação, no sentido de viabilizar a sistematização da sintaxe dos cabeçalhos compostos.
Embora Pettee [1932] [1946] tenha pressentido tal possibilidade não foi capaz de operacionalizá-la, cabendo a Kaiser a primeira tentativa de busca de solução judiciosa e coerente para a determinação do ponto-de-acesso e da sintaxe do cabeçalho composto. Kaiser em sua obra, Systematic indexing , publicada em 1911, considerou que a indexação poderia possibilitar o agrupamento de assuntos semelhantes, desde que a informação fosse representada segundo expressões construídas artificialmente, com base em uma fórmula pré-estabelecida. Segundo o autor, pode-se pegar a literatura aos pedaços e rearrumá-la de modo sistemático a fim de manipular e coordenar a informação da maneira mais adequada ao objetivo almejado. Tratando os assuntos como representações de coisas e de condições a elas relacionadas, trabalhou com três tipos de termos:
1) concretos para denotar coisas, reais ou imaginárias (exemplo: máquinas; dinheiro);
2)processos para denotar ações e condições ligadas a coisas (exemplo: comércio; fabricação); e
3)localidades para denotar, por exemplo, países (EUA; França).
A teoria semântica subjacente à linguagem criada por Kaiser, segundo Svenonius [1978] , é a teoria nominalista do significado, que foi introduzida por Platão em seu “Cratilus”, na qual as palavras são vistas como referindo-se a coisas e, consequentemente, como nomes ou rótulos de coisas. Não obstante a época em que foi formulada e embora esquecida ou ignorada pelos catalogadores de assunto da LC, a teoria de Kaiser trata de modo inovador a questão da sintaxe dos cabeçalhos compostos e da escolha de seus respectivos pontos-de-acesso: toda informação deve ser ordenada segundo o concreto de que ela trata e deve ser expressa numa sequência de nomes ou termos, cuja ordem canônica é concreto-processo.
Os pressupostos lógicos de sua indexação sistemática foram aplicados à resolução de questões práticas de indexação de informações relativas ao comércio e à indústria, já que era bibliotecário do Philadelphia Commercial Museum e da Tariff Commission, de Londres.
Como informa Coates, naquela época o conceito de biblioteca como repositório de informação não existia, mas Kaiser já afirmava que a política de indexação de assuntos deve ser inteiramente orientada para o propósito segundo o qual a coleção de documentos é formada.
Embora a teoria de Kaiser tenha o mérito de introduzir a ordem classificatória no arranjo dos catálogos, estas duas categorias, “concretos” e “processos”, e mais a de lugar são satisfatórias provavelmente para a sua época ou dentro de certos limites, mas não bastam para o controle da informação registrada na literatura atual. Além do que, a lógica dos concretos apresenta-se vaga e a sua definição incerta quando conceitos abstratos como, por exemplo, trabalho e eletricidade, que expressam energia de algum tipo, são considerados concretos.
Segundo Foskett, a contribuição mais importante para a teoria dos cabeçalhos alfabéticos de assunto é a de E. J. Coates, apresentada em sua obra Subject catalogues publicada em 1960, e aplicada no British Technology index (BTI).
Coates partiu da proposta de Kaiser em busca das razões que o levaram a preferir o concreto e não o processo como ponto-de-acesso, formulando explicações com base em argumentações psicológicas. Para Coates, a palavra mais significativa em um cabeçalho composto é aquela que é a mais rapidamente lembrada pelo usuário, a que evoca na mente uma imagem de contornos mais nítidos. Embora reconhecendo que para a ciência moderna, todas as coisas no universo são vistas como manifestações de energia, propõe que a distinção intelectual entre as coisas e ações seja feita apenas para efeitos práticos, da mesma forma que um físico ainda pensa operacionalmente em partículas e no conceito puramente dinâmico de movimento ondulatório. Considera que uma coisa é tudo aquilo que pode ser pensado como uma imagem estática, e que pode representar não só objetos físicos mas sistemas e organizações mentais. Afirma que imagens de coisas são mais simples, mais prontamente fornadas, reais acessíveis à memória e, por isso, mais nítidas do que imagens de ações, já que o tempo não entra da mesma forma nelas. Cita como exemplo, que é mais fácil visualizar-se um gato e fazer-se voltar a mesma imagem outras vezes, do que visualizar-se uma ação sem se contar com a imagem da coisa. O que o faz concluir que uma palavra que evoca uma imagem estática é mais significativa do que uma que denota ação ou processo. Afirma ainda, que a imagem estática é produzida por nomes de coisas e de materiais. Mas que a diferença entre as duas, do ponto de vista da imaginação, é que a coisa tem um limite, enquanto um material não o tem. Em decorrência, o nome de um material tem menos significância do que o de urna coisa.
Por outro lado, a imagem de material é feita de propriedades que parecem inteiramente estáticas tal como cor, durabilidade, suavidade, etc. Logo, o nome de um material tem mais significância do que o de uma ação. Chega então à seguinte ordem-de-significância:
Coisa/Material/Ação.
Embora fundamental para a catalogação/indexação de assuntos, Coates afirma que esta ordem-de-significância não resolve todas as questões relativas à ordem das idéias componentes de um assunto composto, pois este pode ser formado por dois ou mais concretos de significados distintos (por exemplo: “Conveyor belt” e “Belt conveyor”) dependendo da ordem em que os termos que os designam são apresentados na frase.
Para resolver tais questões, elabora um método de análise de assuntos e cabeçalhos compostos em que procura explicar como:
1) as relações entre componentes de um assunto levam a modificações na fórmula de significância Coisa/Material/Ação; e
2) a fórmula de significância conduz a modificações na ordem das 3 palavras componentes de um assunto em linguagem natural.
Coates busca o entendimento das relações entre as palavras que compõem uma expressão ou frase, a partir das relações que elas apresentam na linguagem natural. Considera que as preposições expressam e em grande parte diferenciam as relações entre conceitos.
Assim, aplicando-se as preposições “of” e “with”, respectivamente, aos exemplos citados anteriormente, temos as expressões: “Belt of conveyor” (cabeçalho: CONVEYOR BELT) e “Conveyor with belt” (cabeçalho: BELT CONVEYOR), cujas relações tornam-se evidentes com a utilização das preposições.
O autor afirma que a maioria das frases compostas por dois substantivos ou por um adjetivo e um substantivo, neste caso o adjetivo sendo antes trocado por um substantivo (“Social psychology” por “Psychology of society”), podem ser facilmente representadas desta maneira a fim de evidenciar as relações entre os seus componentes.
A fórmula proposta para a elaboração da sintaxe do cabeçalho de assunto é a seguinte: a ordem dos componentes do cabeçalho de assunto é a inversa da ordem dos componentes de uma frase preposicionada.
Algumas preposições, no entanto, variam de função como “of ” valendo “made of” (frase:”Bricks of glass”, cabeçalho: BRICKS, GLASS) ou representando o genitivo (frase: “Exploitation of invertebrates”; cabeçalho: INVERTEBRATES, EXPLOTATION) como “for” (frase: “Libraries for the public”; cabeçalho: PUBLIC LIBRARIES) ou “for” para diferenciar homônimos (frase: “Counter for games”; cabeçalho: COUNTER, GAMES // frase: “Counter for business equipment”; cabeçalho: COUNTER, BUSINESS EQUIPMENT) ou “for” expressando relação literário-pedagógica (frase: “Social science for nurses, cabeçalho: SOCIAL SCIENCE, NURSES // frase: “Physics for engineers”; cabeçalho: PHYSICS, ENGINEERS) ou “for” + gerúndio expressando propósito (frase: “Machine for washing” cabeçalho: WASHING MACHINE) ou “for” + gerúndio expressando método de operação, (frase: “Library for lending”; cabeçalho: LENDING LIBRARY).
Percebe-se nestes casos, por exemplo, que a fórmula nem sempre é passível de aplicação sendo necessária a instituição de exceções.
As informações aqui registradas não dão conta do método proposto por Coates mas apenas indicam alguns de seus aspectos e pressupostos. Várias regras e dispositivos foram criados pelo autor, em que utiliza a preposição como recurso para evidenciar as relações entre os componentes de frases ou expressões que são posteriormente convertidas em cabeçalhos de assunto, com base em fórmulas previamente estabelecidas. Estes, ora apresentam a sintaxe da linguagem corrente, ora são invertidos. Como o método é elaborado com base na sintaxe da língua inglesa, isto acaba restringindo a sua aplicabilidade. É provável que a viabilidade de sua utilização para a formação de cabeçalhos em outras línguas dependa não só de adaptações mas até mesmo da elaboração de novas fórmulas que se coadunem com as características sintáticas da língua em que o cabeçalho estiver expresso.
Entretanto, é inegável o seu mérito ao estabelecer diretrizes prescritivas que, apesar de calcadas na sintaxe de urna linguagem corrente, evitam o enorme esforço intelectual despendido na determinação de uma ordem de importância a cada vez em que se elabora um cabeçalho composto, no caso, em língua inglesa, e se escolhe o seu ponto-de-acesso.
A partir desses pressupostos teóricos é preciso desenvolver uma metodologia que ultrapasse a dimensão linguística do cabeçalho de assunto.
3 BASES TEÓRICAS PARA A SISTEMATIZAÇÃO
A catalogação ou indexação de assunto* de documento implica a análise das ideias de que esses assuntos são constituídos. Por outro lado, como afirma Neelameghan [1974], um outro nome para “corpo de ideias” é conhecimento, e conhecimento é alguma coisa que alguém conhece. Logo, não existe independente do ser humano e de sua organização social. Mas o crescimento do conhecimento implica a comunicação de ideias. Para que entidades inatingíveis como “ideia” ou “corpo de ideias” ou “assunto” possam ser comunicados, processados e manipulados é preciso nomeá-los, simbolizando-os ou codificando-os. Assim, as ideias podem ser denotadas por palavras de uma linguagem natural, por números ordinais ou por outros símbolos e até mesmo impulsos eletrônicos.Como os cabeçalhos de assunto são elaborados com palavras da linguagens natural e utilizados para introduzir ou categorizar as ideias por eles denotadas, é através delas que o assunto ou “corpo de ideias” pode ser comunicado, processado e manipulado.
Dependendo do número de ideias representadas, o assunto (corpo ou uma reunião de ideias) pode ser simples ou composto. É simples quando representa uma ideia como nos três exemplos a seguir: 1. Leite; 2. Soja; 3. Leite de soja. As ideias presentes nos dois primeiros assuntos quando reunidas formam um terceiro assunto. É composto se constituído por duas ou mais ideias ou conceitos que representam referentes diferentes (exemplo: l. Leite de soja – Fabricação; 2. Leite de soja – Fabricação – Brasil). Assim, o assunto nomeado pelo cabeçalho é simples se formado por um conceito/referente/termo (exemplo: 1. Leite 2. Soja), e composto se constituído por mais de um conceito/referente/termo (Exemplo: 1. Leite de soja – Fabricação; 2. Leite de soja – Fabricação – Brasil). Segundo tal perspectiva, o cabeçalho de assunto que designa um assunto simples se constitui num “termo” e o que designa um assunto composto é formado por dois ou mais “termos”. Isto permite maior flexibilidade ao cabeçalho de assunto como instrumento de representação e recuperação de informação.
O cabeçalho de assunto tradicional que é essencialmente enumerativo e pré-coordenado perde tal rigidez e passa a adquirir características que lhe permitem possibilidades alternativas no que se refere à sintaxe dos compostos. Torna-se um instrumento viável tanto em sistemas de indexação/recuperação pré como pós-coordenados. Assim, ainda segundo Neelameghan, o estudo e a análise de cabeçalhos de assunto, além de serem desenvolvidos numa perspectiva sistêmica, deve pressupor:
a) a distinção de seu propósito ou de suas funções – se usado como entrada de um catálogo dicionário, como expressão de um aspecto da parte classificada de uma lista documentária ou de um sistema de classificação ou, então, como componente da parte alfabética de um catálogo sistemático – para o estabelecimento da formulação mais útil em cada contexto;
b) a determinação de tipos de palavras que devem ser usadas para formar o nome do assunto, como devem ser agrupadas e como o nome como um todo deve ser estruturado para denotar o assunto precisamente e co-extensivamente;
c) o estudo da função de diferentes tipos de palavras e de outros símbolos usados na formulação do nome do assunto;
d) a determinação dos problemas que surgem no estágio ou plano pré verbal – como, por exemplo, quando se estabelece a sequência linear de um assunto multidimensional a ser nomeado ou expresso com palavras de diferentes linguagens naturais;
e) a determinação de como os diferentes contextos afetam a formulação do cabeçalho de assunto;
f) a determinação do nível de artificialidade necessária à formulação do cabeçalho para que atenda ao propósito a que se destina.
A sintaxe dos compostos deve ser analisada segundo três níveis ou planos:
1) o do plano ideia ou de determinação das propriedades e da estrutura do assunto ou do corpo sistematizado de ideias ou do conhecimento;
2) o do plano verbal ou de formulação dos nomes de assuntos;
3) o do planto de apresentação dos nomes de assuntos.
Para se estudar a sintaxe sob tal perspectiva deve-se utilizar os princípios oriundos da Teoria do Conceito desenvolvida por Dahlberg que, ao fornecer fundamentos para a análise conceitual, permite a identificação de idéias ou conceitos que formam os assuntos de documentos, assim como o estabelecimento sistemático de terminologias.
A análise do conceito considerada como a representação de fatos conhecidos acerca de uma coisa ou um item de referência, é absolutamente vital para a sinopse e estruturação útil do conhecimento humano. A análise, construção, reconstrução, correlação, categorização e definição de conceitos, assim como, a determinação e o controle de termos, a elaboração e análise de sistemas conceituais são realizáveis a partir da determinação de características conceituais que, por sua vez, facilitam o entendimento a respeito da natureza do conceito enquanto unidade de conhecimento, e de suas relações.
A técnica da análise de faceta e o recurso da ordem-de-citação aplicados à elaboração da sintaxe de cabeçalhos de assunto, permitem a combinação prescritiva de seus componentes e viabilizam sua sistematização.
Introduzidas no catálogo de assunto por Kaiser, que trabalhou com as categorias Concreto/Processo, inspirou Ranganathan, quando da elaboração da “Colon Classification”, ao criar um conjunto de categorias denominadas PMEST (Personalidade/ Matéria/ Energia/ Espaço/ Tempo), que posteriormente foram desenvolvidas pelo Classification Research Group (CRG), e utilizadas, por exemplo, por Coates, para o British Technology Index (BTI), onde apresenta a seguinte ordem-de-citação: Coisa/Parte de Coisa / Material / Ação / Agente / Lugar / Tempo. A categoria Propriedade pode manifestar-se em relação a cada uma das categorias citadas, e desta maneira localizar-se após aquela a que estiver relacionada. Além destas, a Forma, que é também denominada: Ponto de vista, Abordagem, Enfoque ou Forma de apresentação ou Tratamento do assunto, localiza-se após as categorias referentes ao assunto.
Outro pressuposto metodológico utilizado na análise do cabeçalho de assunto é o do conceito de “termo” – designação utilizada para representar conceito/referente que se diferencia da palavra ou do tradicional cabeçalho de assunto -, por manter uma relação de univocidade com a ideia que representa. Originário da área da Terminologia e caracterizado pelo criador da Escola de Terminologia de Viena, Eugen Wüster, possibilita a erradicação da ambiguidade presente em palavras da linguagem corrente e, por conseguinte, permite que o cabeçalho de assunto tradicional seja transformado num “termo” ou numa “reunião de termos”.
Propõe-se, então, que fundamentada na análise conceitual – da Teoria do Conceito -, na análise facetada – da Teoria Geral da Classificação Bibliográfica -, e no princípio de que a designação das ideias deve ser efetivada por “termos” – da Teoria da Terminologia -, a análise da sintaxe de cabeçalhos de assunto seja desenvolvida segundo duas dimensões passíveis de observação, inferências e deduções:
1) a que se refere à estruturação das ideias (sintaxe absoluta) expressas pelo cabeçalho; e
2) a que se trata da estruturação das palavras (sintaxe linguística ) que formam o nome dessas ideias, ou seja, o cabeçalho.
Sintaxe absoluta é uma expressão utilizada por Neelameghan, para designar o padrão de estruturação, pelo cérebro humano, das ideias que constituem o assunto, este conceituado como “corpo sistematizado de ideias”‘, e também entendido e denominado “conhecimento”. Segundo o autor, a estrutura profunda percebida pelo intelecto de qualquer ser humano normal, parece similar em diferentes assuntos. Esta similaridade, cuja probabilidade de mudança nos próximos anos é considerada muita baixa, parece ocorrer desde o provável surgimento do homem há cerca de 500.000 anos.
A sintaxe absoluta trata, portanto, da estruturação e ordenação das ideias que formam os assuntos compostos expressos por cabeçalhos compostos.
Por outro lado, a estrutura de facetas genéricas de assunto formulada pela Teoria Geral da Classificação Bibliográfica é semelhante à da sintaxe absoluta do assunto. A facetação das ideias que compõem o assunto num sistema de classificação facetada é similar à categorização de conceitos que constituem o assunto expresso por cabeçalhos compostos utilizados como entradas de catálogos alfabéticos.
A ordem de facetas ou ordem-de-citação utilizada em sistemas facetados de classificação bibliográfica para fixar a ordem das ideias designadas por dígitos de notações pode, também, ser aplicada na determinação da sintaxe ou ordem de combinação das ideias que representam assuntos compostos expressos por cabeçalhos compostos. Aos assuntos simples, que representam uma ideia/conceito, mesmo designados por cabeçalhos compostos (exemplos: MÁQUINAS DE LAVAR; GUERRA DO PARAGUAI; TESTES DE APTIDÃO; MOTORES DE AVIÃO), não é possível aplicar-se a ordem-de-citação. A ordem das facetas aplica-se, sim, aos assuntos compostos, que contém duas ou mais ideias/conceitos (exemplos: FABRICAÇÃO DE MÁQUINAS DE LAVAR; MONTAGEM DE MOTORES DE AVIÃO; APLICAÇÃO DE TESTES DE APTIDÃO).
Embora a comunicação, processamento e manipulação de ideias implique a utilização de palavras, a ordenação destas não implica necessariamente a das ideias que nomeiam. A ordem das ideias acaba refletindo-se na das palavras, mas o inverso não parece verdadeiro. Os dois níveis de representação do referente, o das ideias e o de seus nomes, são distintos e apresentam características próprias, inclusive no que se refere a sua ordenação.
É preciso resgatar a ótica proposta por Kaiser para a indexação de assunto, e retomada por Coates – que a desenvolveu a partir da teoria formulada por Ranganathan para a estruturação de sistemas de classificação facetada, aplicada e desenvolvida pelo CRG – segundo a qual deve-se ordenar as ideias, conceitos, assuntos e não os seus nomes (cabeçalhos de assunto, descritores, notações). Em outras palavras, é preciso estabelecer regras de sintaxe dos conceitos que formam os assuntos compostos, nomeados por cabeçalhos compostos, pois, ordenadas estas ideias, a sintaxe das palavras ou cabeçalhos flui como decorrência. Esta perspectiva pode contribuir para a resolução de questões referentes à inconsistência da sintaxe de cabeçalhos compostos que designam assuntos compostos.
Resumindo:
a) a ordem-de-citação é um recurso que pode ser utilizado para orientar e determinar a sintaxe dos assuntos compostos (sintaxe absoluta) nomeados por cabeçalhos compostos;
b) a ordem-de-citação deve ser estabelecida ao nível das ideias/conceitos (plano das ideias) nomeados pelos cabeçalhos compostos e não se aplica, portanto, aos cabeçalhos compostos que designam assuntos simples.
A sintaxe linguística é de uma expressão utilizada por Neelameghan para denominar “a sintaxe dos nomes de assuntos”. É baseada na sintaxe da linguagem natural e pode variar de urna língua para outra.
A sintaxe linguística ocorre no plano verbal, no plano da expressão das ideias. É a combinação ou a ordenação das palavras que formam o nome do assunto, no caso, o cabeçalho de assunto.
Para o cabeçalho composto que designa assunto simples, ou melhor, que representa apenas um conceito/referente/termo é preciso que se determine um critério para orientar a sua sintaxe já que a ordem-de-citação a ele não se aplica. Neste caso, a sintaxe da linguagem corrente deve ser a preferida pois não contraria a maneira como o usuário se expressa e busca a informação. Tal diretriz acaba resgatando, de certa forma, o “princípio do uso”, de Cutter.
A análise apresentada é fundamentada nos pressupostos metodológicos enumerados no item anterior. É aplicada a cabeçalhos que integram a LCASB. As definições das palavras que formam os cabeçalhos foram extraídas do dicionário de Ferreira.
A seguir são apresentados alguns exemplos de análise da “sintaxe absoluta” de assuntos e cabeçalhos compostos da LCASB:
EXEMPLO 1:
(Coisa) (Ação)
ÁGUA – ANÁLISE
ÁGUA – CONSUMO
ÁGUA – CONSERVAÇÃO
Porém,
(Ação) (Coisa)
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Todos estes cabeçalhos nomeiam assuntos constituídos por duas categorias de ideias/conceitos. A palavra “água” é o nome da ideia que se enquadra na categoria conceitual Coisa , enquanto as palavras “análise”, “consumo”, “conservação”, “abastecimento” nomeiam conceitos que podem ser categorizados como Ação, do tipo Operação. A coisa Água sofre as ações exercidas pelos seres humanos sobre ela.
Todas essas ações podem manifestar-se em relação a outros tipos de coisas como, por exemplo, Alimentos, Bebidas, etc., sem que seus nomes adquiram outros significados. Análise (4) designa o “ato de analisar” ou de “decompor (um todo) em suas partes componentes, fazer análise de …”; Consumo designa “ato de consumir” ou de “gastar…”; Conservação é o “ato de conservar(-se)” ou de “resguardar de dano, decadência, deterioração, prejuízo, etc.; preservar…”; abastecimento é o nome da “ação de abastecer-se” ou de “prover, munir, fornecer”.
A sintaxe das duas categorias de ideias que integram cada assunto nomeado pelos cabeçalhos em análise é contraditória. Os três primeiros cabeçalhos têm como ponto-de-acesso o conceito/ideia nomeado pela palavra “Água”, enquanto o último é iniciado pelo nome da ideia categorizada como Ação ou Operação.
Esta inconsistência pode ser abolida com a aplicação da ordem-de-citação ou ordem categórica Coisa/Ação, ao se analisar e sintetizar as ideias que formam o assunto nomeado por cada cabeçalho. O que se faz necessária é, então, a modificação da ordem do último cabeçalho, donde ÁGUA – ABASTECIMENTO. A adoção de remissivas da ordem direta para a invertida, é um recurso importante para auxiliar o usuário no acesso aos termos selecionados para integrar o vocabulário do sistema. Notas explicativas podem ser elaboradas para determinar o âmbito do assunto nomeado por estes cabeçalhos.
EXEMPLO 2:
(Coisa) (Ação)
ÁGUA – POLUIÇÃO
X Poluição da água; Rios – Poluição; Água – Contaminação; Águas Contaminadas
AR – POLUIÇÃO
AR POLUIÇÃO RADIOATIVA
X Poluição radioativa da atmosfera
SOLOS, POLUIÇÃO DOS
porém,
(Ação) (Coisa)
POLUIÇÃO MARÍTIMA
X Água do mar – Poluição (Coisa)
POLUIÇÃO RADIOATIVA DA ÁGUA
POLUIÇÃO TÉRMICA DE RIOS, LAGOS, ETC.
O vocábulo “poluição” tem o sentido corrente de “ato ou efeito de poluir(-se)” que significa “sujar, corromper, tornando prejudicial à saúde…”. Esta palavra é, portanto, capaz de nomear tanto a ação de poluir como o seu efeito, o que torna evidente a sua dubiedade de sentidos. Assim, como estes cabeçalhos são ambíguos já que um de seus elementos constituintes (POLUIÇÃO), utilizado para agrupá-los neste exemplo, pode ter dois sentidos, as palavras “Água”, “Ar”, “Solos”, “Rios” e “Lagos”, assim como o adjetivo “Marítima”, que se refere à “água do mar”, são nomes de características conceituais que podem ter duas funções, de acordo com o sentido daquele vocábulo: 1) são características que representam a diferença que especifica o conceito Poluição; ou 2) são características que representam a categoria Coisa.
Se o vocábulo “poluição” designa o efeito causado pelo ato de poluir, as palavras “água”, “ar”, “solos”, “rios”, “lagos”, “marítima”, “radioativa”, “térmica”, são especificadoras do tipo de poluição, isto é, denominam a característica conceitual diferenciadora do conceito Poluição. As cinco primeiras palavras designam a diferença especificadora, que é a coisa ou o objeto que sofre a ação da poluição e as duas últimas, a diferença especificadora que representa o agente da poluição.
Neste caso, os cabeçalhos são designações de assuntos simples (5), pois representam uma ideia (o efeito da poluição na coisa ou a coisa poluída) passível de ser enquadrada numa única categoria conceitual (Coisa). A estes cabeçalhos não se aplica a ordem-de-citação. Eles não se constituem em objeto da sintaxe absoluta.
Se, no entanto, a palavra “poluição” designar o ato de poluir, aí, então, a idéia/conceito nomeada pertence à categoria Ação, enquanto as palavras “água”, “solos”, “rios”, “lagos” e “marítima” são nomes de conceitos representados pela categoria Coisa. Neste caso, o assunto nomeado por cada um dos cabeçalhos é composto, ou seja, é constituído por duas ideias que integram as categorias Coisa e Ação.
A expressão “poluição radioativa” refere-se a um tipo de poluição, isto é, a que se caracteriza pelo agende poluidor (a radioatividade). A “poluição térmica” é produzida por outro tipo de agente (a temperatura). A radioatividade e a temperatura são características conceituais diferenciadoras do conceito Poluição e representam o determinante ou especificador Agente.
Aplicando-se aos cabeçalhos a ordem-de-citação Coisa/Ação, os seus pontos-de-acesso evidenciam a categoria Coisa. Assim, teremos os possíveis cabeçalhos: ÁGUA – POLUIÇÃO; ÁGUA – POLUIÇÃO RADIOATIVA; AR – POLUIÇÃO; AR – POLUIÇÃO RADIOATIVA; SOLOS – POLUIÇÃO; MAR – POLUIÇÃO, RIOS – POLUIÇÃO; RIOS – POLUIÇÃO TÉRMICA; LAGOS – POLUIÇÃO; LAGOS – POLUIÇÃO TÉRMICA.
Remissivas podem ser feitas para diversificar as possibilidades de acesso à informação designada por tais cabeçalhos.
EXEMPLO 3:
(Instrumento) (Ação)
BOLAS E ESPELHOS DE CRISTAL, ADIVINHAÇÃO COM
“Adivinhação” (6) é uma palavra que serve para designar “o ato de adivinhar” que, por sua vez, pode significar “conhecer ou descobrir, por meios sobrenaturais ou artifícios hábeis, o que está oculto em (o passado, o presente ou o futuro)”, enquanto a expressão “Bolas e espelhos de cristal” serve para denominar instrumentos utilizados na ação ou operação de Adivinhação.
A adoção da ordem invertida parece equivocada. A ideia básica que compõe o assunto e pode ser categorizada como Operação, vem nomeada pela palavra “Adivinhação”. As ideias secundárias que pertencem à categoria Agente (Instrumento) são designadas pelos nomes dos instrumentos usados na realização daquela operação. A aplicação da ordem de citação ou ordem categórica Ação / Instrumento produz um cabeçalho na ordem direta, isto é, com a mesma sintaxe da imagem corrente: ADIVINHAÇÃO COM BOLAS E ESPELHOS DE CRISTAL, ou então, ADIVINHAÇÃO – BOLAS E ESPELHOS DE CRISTAL. Remissivas da ordem invertida, ou melhor, de expressões iniciadas pelo nome do instrumento podem permitir o acesso pelos elementos secundários que compõem o cabeçalho.
Os casos apresentados de análise da sintaxe linguística de cabeçalhos compostos da LCASB, restringem-se a exemplos de nomes de Coisa/Produto, ou de Parte de Coisa/Parte de produto. Entretanto, os mesmos princípios ou pressupostos se aplicam à análise de cabeçalhos representando outras categorias como, por exemplo: Ação (Processo/ Operação/Atividade), Material, Agente/Instrumento, Propriedades, Lugar, Tempo, Forma temática e/ou documentária.
EXEMPLO 1:
AGÊNCIAS DE EMPREGO
AGÊNCIAS DE TREINAMENTO
porém,
PROPAGANDA, AGÊNCIAS DE
A sintaxe dos dois primeiros cabeçalhos não apresenta correspondência com a do terceiro. A ordem das palavras que integram os dois primeiros é a mesma da linguagem corrente, enquanto a do último apresenta-se invertida.
Os três cabeçalhos designam assuntos simples. São constituídos por uma ideia/conceito presente em todos – a que é expressa pela palavra “Agências” (“Escritório onde se trata de negócios, geralmente, ligados à prestação de serviços…”) – mas que reunida aos conceitos nomeados, respectivamente, pelas palavras “emprego”, “treinamento” e “propaganda” formam três outras ideias/conceitos.
As três últimas palavras são, portanto, os nomes das características conceituais que diferenciam e servem para especificar o conceito norteado pela termo Agências.
“Agência de propaganda” por exemplo é uma expressão em destaque no dicionário de Ferreira com a seguinte indicação: “Empresa de serviços que planeja, executa, distribui e controla a propaganda comercial de seus clientes; agência de publicidade”.
As duas alternativas de sintaxe dos cabeçalhos em análise, embora possíveis, não se justificam. É necessário que se escolha uma delas: ou adota-se AGÊNCIAS como ponto-de-acesso de cada cabeçalho, o que permitiria reunir todos os nomes dos assuntos iniciados por esta palavra, ou, então, utiliza-se como ponto-de-acesso o determinante ou nome da diferença especificadora do tipo de Agência. Neste caso, os cabeçalhos ficariam reunidos segundo as palavras “emprego”, “treinamento”, “propaganda”.
Sabe-se, entretanto, que a ordem alfabética não permite reunir, agrupar ou relacionar assuntos. Agrupar ideias apenas quando podem ser expressas por uma mesma palavra não é critério consistente, já que nem sempre ideias relacionadas podem ser expressas pela mesma palavra.
Sugere-se, então, que a sintaxe da linguagem corrente seja utilizada. Assim, não só o “princípio do uso” é revalidado em casos de sintaxe de cabeçalhos compostos que expressam assuntos simples como, também a sintaxe deste tipo deixa de ser casuística. A solução apresentada implica o uso de um princípio ou diretriz que permite a elaboração consistente da sintaxe, mesmo que ocorra a sua variação em função da língua em que o cabeçalho de assunto é expresso.
Remissivas dos cabeçalhos invertidos podem ser elaboradas a fim de permitir o acesso ao assunto pelos elementos secundários dos cabeçalhos.
EXEMPLO 2:
AVIÕES – MOTORES
LC Airplaines – Motors
Quando os “princípios do uso” e “da entrada direta” podem ser utilizados, a lista não os contempla. O cabeçalho, embora composto, nomeia apenas uma ideia/conceito (Motores de avião).
“Aviões” é uma palavra que nomeia a ideia que representa o Todo e “Motores”, a Parte da Coisa que é caracterizada pelo Todo (“Aviões”). Esta palavra designa, então, apenas a diferença ou característica que serve para especificar o tipo de motor. Assim, o que é determinado (“motores”) pelo determinante (“Aviões”) pode ser considerado como a ideia ou o conceito mais significativo que integra o assunto.
Neste caso, a combinação usual das palavras que integram a expressão escolhida como cabeçalho deve ser privilegiada, já que o cabeçalho embora composto designa assunto simples. É inadequada a adoção da inversão, ao que parece, apenas uma tradução de seu correspondente em língua inglesa, o da LCSH. A ordem direta do cabeçalho em inglês (Airplane motors) privilegia o Todo (Airplane) enquanto a sintaxe da língua portuguesa destaca a Parte do Todo (Motores).
Sugere-se, então, a construção de um cabeçalho na ordem direta, isto é, com a mesma sintaxe da linguagem corrente (MOTORES DE AVIÃO). Não importa se os pontos-de-acesso dos cabeçalhos nas duas línguas são divergentes se refletem a maneira usual, a ordem corrente de expressão de tal ideia. Uma remissiva da ordem invertida poderá orientar o usuário que procura pela palavra não selecionada como ponto de acesso, no caso, o determinante ou nome da diferença (Avião).
No que se refere à forma dos cabeçalhos analisados, tanto o expresso em língua inglesa como portuguesa, a adoção do hífen é injustificável, por se tratar de assunto simples designado por cabeçalho composto.
EXEMPLO 3:
FILMES – ROTEIROS
LC Moving-picture authorship porém
ROTEIROS DE FILMES – TÉCNICA
A sintaxe dos cabeçalhos é contraditória. A mesma ideia “roteiros de filmes” – “texto, baseado no argumento, das cenas, sequências, diálogos e inclinações técnicas de um filme” – é nomeada de forma divergente. No primeiro cabeçalho o ponto-de-acesso é FILMES, enquanto, no segundo, é ROTEIROS.
A inversão, embora presente nos dois cabeçalhos não parece adequada no primeiro deles. “Filmes” é o nome da característica conceitual que serve para diferenciar e especificar; é o determinante de “Roteiros”.
As duas palavras (“roteiros” e “filmes”) sozinhas representam ideias diferentes da que é designada por ROTEIROS DE FILMES ou FILMES – ROTEIROS. Como o assunto nomeado por tais expressões é simples, a sintaxe linguística deve acompanhar a da linguagem corrente.
“técnica” pode ser categorizada como Ação (conjunto de processos de uma arte). Representa, portanto, um conceito/referente/termo que se constitui num dos elementos do assunto e do cabeçalho, enquanto Roteiro de filmes é um outro conceito/referente/termo ou elemento componente do mesmo assunto e cabeçalho. Assim, para determinar-se a sua sintaxe deve-se recorrer à ordem-de-citação Coisa/Ação, que, por sua vez, coincide com a do cabeçalho da LCASB.
A análise da sintaxe dos cabeçalhos da LCASB desencadeou algumas conclusões que foram agrupadas segundo três aspectos. O primeiro reúne as inferências e deduções relativas à LCASB enquanto instrumento de catalogação/indexação de assunto de documento. O segundo refere-se às implicações da sintaxe na operação de catalogação/indexação de assunto. O terceiro, agrupa as consequências sobre o catálogo alfabético de assunto.
Para finalizar, algumas sugestões são apresentadas como diretrizes para a sistematização da sintaxe dos cabeçalhos compostos.
5.1 Lista de Cabeçalho de Assunto do Sistema Bibliodata (LCASB)
- Os cabeçalhos compostos apresentam sintaxe casuística e inconsistente.
- Os pontos-de-acesso de cabeçalhos similares são divergentes.
- As regras ou orientações para a elaboração da sintaxe são pragmáticas e inconsistentes.
5.2 Catalogação/Indexação com Cabeçalho de Assunto
- A catalogação/indexação é derivativa já que a sintaxe não é controlada.
- A qualidade da operação é inviabilizada pela inexistência de regras prescritivas e consistentes.
5.3 Catálogo Alfabético de Assunto
- O catálogo é precário como instrumento de recuperação de informação.
- As entradas do catálogo apresentam pontos-de-acesso divergentes dificultando o seu reconhecimento pelo usuário.
- O catálogo com entradas inconsistentes faz com que a busca apresente tendência intrínseca ao erro.
5.4 Diretrizes para a Sistematização da Sintaxe
- A sintaxe do cabeçalho composto que designa assunto simples (sintaxe linguística) deve apresentar a ordem direta baseada na sintaxe da linguagem corrente.
- A sintaxe do cabeçalho composto que designa assunto composto (sintaxe absoluta) deve ser elaborada segundo a ordem-de-citação prescrita.
Abstract
Subject heading as a tool for subject and/or documentary form is used to build alphabethical subject catalogue entries. As a tool for information retrieval it is weak, among other reasons, due to its syntax inconsistency. It is necessary to sistematize the order of elements in compound headings based on classifyng principles and to prescribe rules in order to eliminate the casuistic order of elements when cataloging or indexing. The use of faceted, categoric and conceptual analysis in accordance with the concept of “term” opens to the cataloguer/indexer a perspective for consistent building of subject headings.
Notas
(1) Cabeçalho de assunto – “Palavra ou grupo de palavras que indicam um assunto sob o qual todo o material relacionado com o mesmo tema é representado num, catálogo ou numa bibliografia, ou é ordenado num arquivo” (Haykin, p.44)
(2) As subdivisões de lugar e teço referem se ao conteúdo do documento e devem ser consideradas expansões do assunto. Recomendação registrada em Gomes, H. E., Marinho, M.T. Divisão de forma: instrução e uso. Rio de janeiro: IBICT, 1984. p.15. Na mesma obra, p. 10, há uma citação que registra a afirmativa de Haykin: de que as subdivisões de forma, lugar e temo “são extensões ou modificações do cabeçalho de assunto e não áreas de assuntos específicos dentro daquelas cobertas pelo cabeçalho principal”.
(3) Cutter rejeitou a “regra do substantivo” não só por considerar que este expressa a classe, e o adjetivo, a diferença; mas, também, porque entendia que algumas vezes o adjetivo e especificado pelo substantivo (Gastric fluids; Medical practice; etc. ), e que o cabeçalho, com sintaxe artificial infringe o “princípio do uso”, em que a sintaxe corrente ou a ordem direta do cabeçalho é privilegiada.
(4) Estas palavras podem designar também o efeito e não só a ação. Se designa o efeito, a expressão constituída por esta e mais a palavra ÁGUA denomina apenas uma idéia (Água analisada; Água para consumo; Água para abastecimento) que não pode ser objeto de sintaxe absoluta. Sempre que houver nomes designando efeito ou ação, como assuntos de documentos, eles têm que ser diferenciados na linguagem de indexação, constituindo-se em dois cabeçalhos acompanhados das respectivas notas explicativas.
(5) Se o assunto é simples, ou melhor, se a palavra POLUIÇÃO significa o “efeito”, pode-se sugerir os seguintes cabeçalhos: Água poluída; Água poluída pela radioatividade; Ar poluído; Ar poluído pela radioatividade; Solos poluídos; Rios poluídos; Rios poluídos pelo aquecimento; Lagos poluídos; lagos poluídos pelo aquecimento; Mares poluídos. Ver item 4.2.
(6) Se denominar o efeito, como assunto independente (a adivinhação efetuada ou realizada), um outro nome deve ser adotado para diferenciá-lo da ação. Ver item 4.2.
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